quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Agricultura

AGRICULTURA

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Colaboração e Formatação de Dermeval Neves

A atividade agrícola continua a ser fundamental em todos os países e todas as sociedades.


É da Agricultura que a humanidade tira quase a totalidade da sua alimentação comestível sem necessidade de transformação industrial, seja através da produção de matérias-primas para a indústria alimentar. A agricultura contribui também, embora menos que outrora, para a produção das matérias-primas necessárias ao fabrico de têxteis.

Os destinos industriais dos seus produtos diversificam-se. Alargando o seu papel como fonte de matérias-primas, a agricultura evoluiu muito durante as últimas décadas, tanto no ponto de vista técnico como econômico.

Quando o homem deixou de ser nômade para se dedicar à agricultura, deu um importante passo para sua evolução.

Isso aconteceu quando ele descobriu que alguns grãos que cresciam soltos pela natureza podiam ser plantados e cultivados.

Eram vários os tipos de grãos, entre eles, a aveia, a cevada, o sorgo e, claro, o trigo.

Naquela época os grãos não eram iguais aos que a gente encontra hoje, eram o que chamamos de "grãos selvagens" que, ao longo dos séculos, foram se modificando.

Diferentes povos, desde a pré-história até o Mundo Antigo, utilizaram esses grãos para a alimentação, ou fazendo uma espécie de mingau, ou cozinhando um tipo de bolo não levedado, que ainda não era realmente o que a gente pode chamar de pão.


A agricultura teve o seu início há cerca de 10 a 12 mil anos na região situada entre os rios Nilo, Tigre e Eufrates, conhecida por Crescente Fértil. O cultivo intencional de cereais está associado à sedentarização das populações e à passagem de uma economia recoletora para uma economia produtiva, geradora de excedentes e baseada na exploração da terra.

A arte do cultivo das plantas e da domesticação dos animais foi-se transmitindo na Europa de oriente para ocidente e deve ter chegado à Península Ibérica há cerca de quatro mil anos.

Com exceção de algumas técnicas propostas pelos agrônomos romanos (Columela, Plínio, Varrão), a agricultura europeia manteve-se praticamente inalterada até ao séc. XVIII.

A rotação bienal cereal - pousio herdada do Neolítico, uma alimentação baseada em hidratos de carbono e uma produção animal marginal no sistema, baseada nos ovinos e caprinos que apascentavam os restolhos e os revestimentos espontâneos das terras em pousio, eram os traços mais marcantes da agricultura europeia.


Num processo que se iniciou na Holanda em meados do séc. XVII e que decorreu na Inglaterra no século XVIII introduziram-se alterações profundas nas técnicas da produção agrícola.

A abolição do pousio, possibilitada por lavouras mais profundas e frequentes e a prática de novas rotações (rotação de Norfolk) conduziram à chamada Revolução Agrícola que, conjuntamente com outros fatores, permitiu a Revolução Industrial.

A rotação de Norfolk era constituída por uma cultura sachada (nabo) que abria a rotação, seguida de um cereal, uma leguminosa (trevo violeta) e novamente um cereal. A constituição de prados artificiais (trevo) e a cultura de raízes forrageiras (nabo) permitiu melhorar a alimentação animal o que conduziu à intensificação pecuária e ao melhoramento das raças.


( Antigo Curral )

A estabulação do gado bovino permitiu dispor de estrume cuja incorporação nos solos levou a aumentos de produtividade. A terra passou a ser encarada como meio de produção rentável, nascendo uma agricultura do tipo empresarial.

O aumento da produtividade da terra gerou maior disponibilidade de rendimento que foi encaminhado para a procura de têxteis, inicialmente de lã e logo depois de algodão.

Esse aumento de produtividade era conseguido, em parte, devido a mobilizações do solo mais profundas e frequentes que exigiam aperfeiçoamentos nos aparelhos aratórios.

As peças de madeira foram sendo substituídas por ferro e a utilização do cavalo como animal de tração incrementou a procura de metal para as ferraduras estimulando, desta forma, a siderurgia e o consumo do carvão.

Se é certo que a Revolução Agrícola, conjuntamente com a explosão demográfica, a evolução dos conhecimentos técnicos e dos transportes ferroviários e marítimos influenciou a Revolução Industrial, não é menos verdade que a indústria estimulou a modernização da agricultura.

As contribuições ao nível da maquinaria agrícola, das aplicações da química (adubos e pesticidas) e a melhoria dos transportes que conferiram à agricultura o estímulo do mercado, fizeram-se sentir desde cedo e, mais recentemente, as aplicações da informática foram decisivas na criação da agricultura moderna.

Agricultura é a arte ou processo de usar o solo para cultivar plantas com o objetivo de obter alimentos, fibras, energia e matéria-prima para roupas, construções, medicamentos, ferramentas e contemplação estética.

A quem trabalha na agricultura chama-se agricultor. O termo fazendeiro se aplica ao proprietário de terras rurais onde, normalmente, é praticada a agricultura ou pecuária ou ambos.

Supostamente, há cerca de 12 mil anos atrás, durante a Pré-história, no período do neolítico ou período da pedra polida, alguns indivíduos de povos caçadores-coletores notaram que alguns grãos que eram coletados da natureza para a sua alimentação poderiam ser enterrados, isto é, "semeados" a fim de produzir novas plantas iguais às que os originaram. 

Essa prática permitiu o aumento da oferta de alimento dessas pessoas, as plantas começaram a ser cultivadas muito próximas umas das outras. Isso porque elas podiam produzir frutos, que eram facilmente colhidos quando maturassem, o que permitia uma maior produtividade das plantas cultivadas em relação ao seu habitat natural.


Logo, as frequentes e perigosas buscas à procura de alimentos eram evitadas. Com o tempo, as pessoas foram selecionando os melhores grãos selvagens e foram selecionados aqueles que possuíam as características que mais interessavam aos primeiros agricultores, tais como: tamanho, quantidade produzida, sabor, etc.

Assim surgiu o cultivo das primeiras plantas domesticadas, entre as quais se inclui o trigo e a cevada.


O início das atividades agrícolas separa o período neolítico do imediatamente anterior, o período da pedra lascada. Como é anterior à história escrita, os primórdios da agricultura são obscuros, mas admite-se que ela tenha surgido independentemente em diferentes lugares do mundo, provavelmente nos vales e várzeas fluviais habitados por antigas civilizações.

Durante o período neolítico, as principais áreas agrícolas estavam localizadas nos vales dos rios Nilo (Egito), Tigre e Eufrates (Mesopotâmia, atualmente conhecida como Irã e Iraque), Amarelo e Azul (China).

Há registros de cultivos em pelo menos três regiões diferentes do mundo em épocas distintas: Mesopotâmia (possivelmente pela cultura Namuriana), América Central (pelas culturas pré-colombianas) e nas bacias hidrográficas da China e da Índia.

Mudanças no clima ou desenvolvimentos da tecnologia humana podem ter sido as razões iniciais que levaram à descoberta da agricultura.

A agricultura permite a existência de aglomerados humanos com muito maior densidade populacional que os que podem ser suportados pela caça e coleta. Houve uma transição gradual na qual a economia de caça e coleta coexistiu com a economia agrícola: algumas culturas eram deliberadamente plantadas e outros alimentos eram obtidos da natureza.


A importância da prática da agricultura na história do homem é tanto elogiada como criticada: enquanto alguns consideram que foi o passo decisivo para o desenvolvimento humano, críticos afirmam que foi o maior erro na história da raça humana.

Por um lado, o grupo que se fixou na terra tinha mais tempo dedicado a atividades com objetivos diferentes de produzir alimentos, que resultaram em novas tecnologias e a acumulação de bens de capital, daí o aculturamento e o aparente melhoramento do padrão de vida.


Por outro, os grupos que continuaram utilizando-se de alimentos nativos de sua região, mantiveram um equilíbrio ecológico com o ambiente, ao contrário da nova sociedade agrícola que se formou, desmatando a vegetação nativa para implantar a monocultura, na procura de maior quantidade com menor variedade, posteriormente passando a utilizar pesticidas e outros elementos químicos, causando um grande impacto no solo, na água, na fauna e na flora da região.


Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal

A bela e admirável Sintra

A bela e admirável Sintra
(Concelho do Distrito de Lisboa)
Palácio da Pena (Serra de Sintra)

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Formatação de Dermeval Neves

Brasão de Sintra

A Serra de Sintra fica situada no distrito de Lisboa, e tem de comprimento 10Km e de largura 7 Km, com altura máxima de 529 metros do nível do mar. Grande maciço granítico de formas irregulares. Num dos seus píncaros fica situada o Castelo dos Mouros  e noutro o Palácio da Pena. Cá em baixo na cidade, fica situado o Paço Real de Sintra, composto de construções mouriscas, da Idade Média e do Renascimento e também do período Manuelino. Conquistada aos Mouros em 1147, por D. Afonso Henriques (primeiro rei de Portugal).

Na Serra foram encontrados vestígios das ocupações romanas e árabes. Os Romanos quando chegaram a Sintra, chamaram-na de "Mons Lunae", ou seja, Montes da Lua, porque nessa época a serra era completamente desprovida de vegetação.


Na Serra de Sintra, existe exuberante combinação de verdes (600 tons diferentes, que é único no mundo), de maravilhosos jardins, alamedas, florestas, lagos, nevoeiros, penhascos e precipícios, que coexistem com edifícios de várias épocas e estilos arquitetônicos, desde os serenos palácios e mosteiros setencentistas e oitocentistas, às mansões de características neoárabes e neo-manuelinas. Em linguagem figurada, Portugal tem sido muitas vezes descrito como uma ilha, tradicionalmente ligado ao mar – Índia, África, Ásia e Américas – mas o seu isolamento é mais cultural do que geográfico.

Na longa história das Descobertas Marítimas, nenhuma outra terra foi tão celebrada em verso e em prosa, como Sintra, principalmente a sua Serra, testemunho do passado marítimo português: as idas e vindas, a visão de navios de guerra, a descoberta do Comércio. Gil Vicente descreveu Sintra em "O Triunfo do Inferno", como uma grande senhora, sonhadora, romântica, amorosa e desinibida. Mas também outros poetas e escritores portugueses e estrangeiros a foram descobrindo ao longo do tempo.


Marinheiros perdidos no mar ou regressados à casa – figuras de "Os Lusíadas" do grande Camões, e da "História Trágico-Marítima" – falam com saudade do lar e da vista da Cruz Alta, o ponto mais alto da Serra de Sintra.

Lord Byron descreve-a longamente em cartas à sua mãe, escritas de Gibraltar em 1809, chamando-lhe "labiríntico jardim paradisíaco, onde os românticos se tornam mais românticos, os amorosos mais amorosos e os namorados mais enamorados. Esses jardins seriam dignos de figurarem no Eden...".

Nas tardes de Verão, quando o nevoeiro nasce do Atlântico, o Sol paira como um disco alaranjado, sobre a terra sem vento. A intensidade da luz da cor dá profundidade aos montes alcantilados que se erguem do Atlântico ao encontro da Serra de Sintra. 

Origem do nome: Segundo a opinião do Dr. José Leite de Vasconcelos: "... além dos dados colhidos pelo Dr. Gomes de Brito, também mencionarei que Damião de Góis, o grande escritor clássico da "Crônica de D. Manuel", diz e repete Sintra e Cintra.

Mas a questão não está resolvida simplesmente pela morfologia histórica da língua: está resolvida pela fonética. Como se sabe, a pronúncia de hoje não é exatamente igual à pronúncia dos séculos XIV, XV e XVI, sobretudo ao valor do "S" inicial, do "S" intervocálico, do grupo "CH", etc. O "S" inicial tinha o valor que ainda hoje tem na Beira e na Espanha, e que se não confunde com o do "C" e de "I"; isto é, se os quinhentistas e os seiscentistas pronunciarem como nós a sílaba "SIN", não escreveriam Sintra, mas sim Cintra. Escrevendo como escreviam: SINTRA, vê-se que davam ao "S" inicial o valor do "S" inicial beirão e castelhano, de acordo com o latim medieval Sintra e Sintria, que não se lia como nós lemos. Também o Dr. Fernando Venâncio da Fonseca, opina: "... de baixa latinidade Sintria, sempre com um "S" até ao século XVll ...". Xavier Fernandes, pensava que a mudança de "S" para "C", talvez se deva à conexão com CYNTHIA, epíteto greco-romano da deusa da Lua, tanto mais que Sintra fica perto do antigo promontório da Lua, e aos Romanos terem chamado à Serra de "MONS LUNAE".

O fato de os Árabes terem transcrito XINTRA, que revela o som palatal do "S" em português arcaico (hoje apenas dialectalmente), igualmente é comprovativo da grafia "S".

Algumas figuras históricas ligadas a Sintra:

Dom Fernando ll: Muito do que ainda podemos admirar hoje em Sintra, se deve a este rei, que foi casado com D. Maria IIª. Dom Fernando foi Duque de Saxónia Coburgo Gotha, e foi rei de Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria llª, em 1836. 

Foi regente do Reino durante dois anos, em seguida à morte da soberana e enquanto seu filho, Dom Pedro, (mais tarde Dom Pedro V) não atingiu a maioridade.

Grande amante e protetor das Artes, a ele se deve a transformação do antigo convento dos Frades Jerônimos, no hoje Palácio da Pena, assim como a restauração do Castelo dos Mouros e grande parte da arborização da Serra de Sintra, assim como aos seus jardins e lagos. 

Teve um grande amor na sua vida sentimental: a Condessa de D’ella, nobre alemã que conheceu após a morte da sua primeira mulher e antes de se casar com D. Maria llª.

A Condessa D’ella, viveu num palácio perto do Palácio da Pena, e os seus encontros amorosos, davam-se no chamado Lago Grande, perto da Fonte dos Passarinhos, que tantas tradições tem.

D. Maria llª: Em 1835, casou com o príncipe Augusto de Leuchtenberg, que faleceu dois meses depois. No ano seguinte, desposou o príncipe Dom Fernando de Saxónia Coburgo Goth, de quem teve onze filhos, custando o nascimento do último, a sua vida.

O reinado de D. Maria llª foi um período de incessantes lutas civis. Os partidos políticos não compreendiam os verdadeiros princípios liberais e guerreavam-se com cega violência. As revoltas militares, que se seguiam quase sem interrupção, mantinham o país em permanente guerra civil.

Dotada de altas virtudes e de vontade enérgica, D. Maria llª suscitou ódios políticos, mas foi sempre venerada como esposa e mãe de família, pelos seus mais ardentes adversários.

SINTRA é uma povoação já muito antiga, cujas origens se perderam em nebulosas lendas, encontrando-se ligada a um passado cultural a que escritores e artistas, sobretudo durante o século XlX, deram realce.

Supõe-se que durante a ocupação árabe foi povoação importante, embora poucos vestígios restem dessa época. Recebeu foral em 1154, dado por Dom Afonso Henriques. Dom Dinis e os monarcas que lhe sucederam fizeram de Sintra o centro de veraneio da corte. Aqui nasceu e morreu Dom Afonso V, foi aclamado rei Dom João ll, deu a sua última audiência Dom Sebastião e esteve cativo Dom Afonso Vl.

Às belezas de Sintra, se referiram nas suas obras poetas nacionais e estrangeiros, como Camões, Garrett, Eça de Queirós, Lord Byron, William Beckford, etc.



Monumentos:


Castelo dos Mouros: Ergue-se sobre picos rochosos, coroando a Serra, e remonta aos séculos Vlll ou lX.  Foi reedificado pelos Mouros e ocupado em 1147 por Dom Afonso Henriques. O seu aspecto atual advém-lhe das obras levadas a efeito no tempo de Dom Fernando II, pois o Castelo ficou praticamente destruído pelo terremoto de 1755.


PAÇO REAL DE SINTRA (ou PALÁCIO NACONAL DE SINTRA): Este Palácio distingue-se pela variedade das suas edificações, dispostas à volta de pequenos e silenciosos pátios, de ressonância andaluz, e em planos diferentes, conforme s sua implantação no terreno e ainda pelos estilos artísticos que ilustra, é um exemplar único na sua arquitetura civil portuguesa.

Este monumento, rival do álcacer de Sevilha, provém de um primitivo paço gótico da época de Dom Dinis, desenvolvido no tempo de D. João I, que aqui decidiu, em 1415, a expedição a Ceuta e, em 1429, recebeu a embaixada do duque de Borgonha, da qual fazia parte o pintor Jan van Eyck.

Dom Afonso V promoveu obras no velho edifício, onde viria a morrer em 1481, sendo logo a seguir aí aclamado D. João II, no Terreiro do Jogo da Pela. Este rei estanciou mais do que uma vez em Sintra, havendo nomeado vários mestres para as obras do Paço.

A grande e documentada atividade de renovação teve lugar no reinado de D. Manuel I, entre 1505 e 1520, ao ser acrescentada a ala oriental, obra típica da arte manuelina, com as suas janelas geminadas e de pujantes elementos decorativos gótico-naturalista, a que se seguiram as arcadas das belas galerias abertas em dois andares, e ao ser erguida, a poente, o imponente cúbito da Sala dos Brasões, com o telhado piramidal e um largo e original friso alveolado sob a cornija, cujo lavor é do mais típico mudegarismo.

Este palácio tem o maior repositório de azulejos antigos existentes no País, sendo alguns deles peças únicas, como os que, engrafitados a negro, emolduram a porta gótica da Sala das Sereias, ou da Galé, todos notáveis pela sua policromia e integração decorativa; os da Salas dos Cisnes e das Pegas, onde brilha o raro azul-de fez, e os da chamada Sala dos Árabes, com os seus vistosos lambris de azulejos sevilhanos verdes, azuis e brancos, e outros no friso do alizar, de fabrico nacional, também manuelinos, com flores-de-lis e macarocas em relevo.

Nesta sala, primitivo pavilhão central, conforme o desenho quinhentista de Duarte de Armas, que também documenta a existência das monumentais chaminés da cozinha gótica, o chão é revestido de ladrilhos e pequenos embutidos, admirando-se ao centro uma fonte – taça de mármore, rematada por um repuxo, exótica composição metálica com tritões e cavalos.

O mesmo valioso tipo de pavimento de ladrilhos encontra-se também na Sala de Dom Afonso VI e na capela gótica, a qual é enriquecida pelo original teto de lacarias medéjares, de dois tramos, o mais antigo com as armas reais, provavelmente de Dom Afonso VI, e o posterior já estilo manuelino.

( Capela )
Esplêndido conjunto este da capela, sem par no País, que a torna só por si um verdadeiro tesouro artístico, um monumento dentro de um monumento, onde ainda se encontram vestígios da primitiva pintura gótica, representando uma pomba, o que permitiu a restauração da decoração mural.

O recheio do Palácio é constituído por mobiliário antigo, tapeçarias, pinturas e, junto da tribuna da capela, uma escultura de Santa Ana e a Virgem, da Escola Alemã. Algumas Salas que se encontram neste Palácio:

SALA DO CATIVEIRO:  Onde Dom Afonso VI esteve cativo, depois de ter sido destronado por sua mulher (D. Maria Francisca) e por seu irmão Dom Pedro VI.

( Sala dos Brasões )

SALA DOS BRASÕES: O teto desta sala, de cúpula apainelada de espetacular efeito, exibe pintadas as armas reais e dos seus infantes, bem como, nas ordens inferiores, as da nobreza da época manuelina. É suntuosa a decoração das molduras dos caixotões e dos motivos vegetalistas que rodeiam as armas reais. Elegantes corças preenchem alguns dos caixotões. A ornamentação da magnificente Sala dos Brasões foi completada com o forro das paredes por azulejos barrocos figurando caçadas.

( Sala dos Cisnes )

SALA DOS CISNES:  No interior do Palácio admiram-se artísticos tetos, nomeadamente o da espaçosa e clara Sala dos Cisnes, de masseira, de inspiração mudéjar, decorado com pinturas de cisnes dentro de caixotões octogonais de molduras douradas.

( Sala das Pegas )

SALA DAS PEGAS: Além da figuração destas aves, ostenta, pintado o mote "Por Bem", de Dom João I. Ornamentam estas salas preciosas azulejos mouriscos. O seu recheio é constituído por móveis antigos, como os contadores hispano-árabes da Sala das Pegas, por algumas pinturas e tapeçarias de valor. Apesar de modificadas em épocas sucessivas, conservam o antigo esplendor.

Afonso Vl: Ainda muito criança foi atacado por uma grave doença, que o deixou fraco para sempre, tanto de corpo como de espírito. Quando faleceu seu pai, tinha apenas treze anos e até à sua maioridade exerceu a regência sua mãe, a rainha D. Luísa de Gusmão.

Já durante este período se manifestaram as taras físicas e morais do príncipe, que só escolhia a convivência de aventureiros devassos e de indivíduos da mais baixa condição, entregando-se com eles a correrias pelas ruas de Lisboa, armando escândalos e desordens, de que não raro saía maltratado. Quando Dom Afonso completou dezoito anos, como a rainha hesitasse em lhe confiar o governo do Reino, o príncipe, a instigações do conde de Castelo Melhor, retirou a regência a sua mãe e assumiu o poder, tomando para seu ministro o conde de Castelo Melhor, que se revelou um estadista eminente.

Em 1666, casou o soberano com Maria Francisca Isabel de Sabóia, Duquesa de Nemours. Foi uma união desastrosa. A rainha logo de apaixonou por seu cunhado, Dom Pedro e não tardou a desprezar e a detestar o homem a quem se ligara. Estabeleceu-se entre ela e o conde de Castelo Melhor, uma forte rivalidade política, de que resultaram complicadas intrigas na Corte, principalmente pelo romance que ela mantinha com o cunhado. O infante Dom Pedro tomou então partido da sua cunhada rainha, criando-se entre eles uma relação amorosa bem visível aos olhos de todos. Dom Pedro, que também detestava o conde de Castelo Melhor, manobrou por forma a tirar ao seu irmão e seu rei, o único homem que o podia amparar no trono. Privado do conde, Dom Afonso estava perdido...  

A rainha, pretextando que o casamento não se consumara, escreveu uma carta que ainda hoje é considerada muito erótica, ao parlamento, e retirou-se para um convento. Seguiu-se um processo de divórcio, que é uma das mais vergonhosas páginas da nossa história.

Os acontecimentos precipitaram-se e Dom Afonso foi dominado pelo infante, não lhe opondo qualquer resistência. As Cortes convocadas em 1668 depuseram o rei, entregando a regência a seu irmão. De Roma veio a anulação do casamento e a dispensa para que os dois cunhados pudessem casar, o que ainda fizeram nesse mesmo ano.

Dom Afonso foi então exilado para a Ilha Terceira (Açores) e encarcerado no castelo de São João Batista. Quatro anos depois, em seguida a uma conspiração em seu favor e que se malogrou, foi Dom Afonso transferido para o Paço Real de Sintra, onde faleceu subitamente (e misteriosamente) em 1683.

D. Maria Francisca Isabel de Sabóia: Duquesa de Nemours e d`Aumal, nasceu em Paris em 1646. Segunda filha dos duques de Nemours. Casou em 1666 com Dom Pedro VI e logo se ingeriu na política portuguesa, manifestando-se logo hostil ao conde de Castelo Melhor, que já tinha por adversário o infante Dom Pedro, seu irmão. Entre a rainha e seu cunhado, estabeleceram-se relações amorosas, que fizeram escândalo na Corte.

Conseguiram os dois amantes obrigar o conde de Castelo Melhor a demitir-se e logo tramaram tirar a coroa a Dom Afonso VI. A rainha retirou-se para o Convento de Madre de Deus, pretextando que o marido nem sequer o casamento conseguira consumar. Dom Pedro apoderou-se da regência e em seguida a um processo vergonhoso de que resultou a anulação do casamento com Dom Afonso VI, desposou a sua cunhada em 1668. Deste segundo enlace, teve D. Maria Francisca uma filha, a princesa D. Isabel, que faleceu com 23 anos. Nota: Dom Pedro II, casou em segundas núpcias com D. Maria Sofia de Neuburgo e desta união nasceu Dom João V.

( Palácio Nacional da Pena )

Palácio Nacional da Pena: Em plena Serra de Sintra, formando com a Natureza um conjunto espetacular, ergue-se o Palácio da Pena.

Construído no século XlX sobre as ruínas de um antigo convento, este núcleo de arquitetura civil revela uma concepção romântica, pelas características estilísticas e cuidado de integração no ambiente, com bom sentido de cenografia paisagística. O primitivo Mosteiro de Frades Jerónimos fora mandado construir por Dom Manuel I, em 1511.

No século XVIII estava semiarruinado, devido ao terremoto de 1755. Em 1838, Dom Fernando II, soberano profundamente culto e sensível às correntes estéticas do romantismo, adquiriu as ruínas, envolvidas por uma ambiência poética tão ao gosto da época, com a finalidade de as transformar em residência de Verão, obrigando-se, simultaneamente, a manter a traça primitiva. Este príncipe, grande conhecedor das artes, interessado no patrimônio nacional, fomentou igualmente os restauros do Mosteiro da Batalha, do Convento de Cristo em Tomar e da Torre de Belém, tendo concedido bolsas a alguns artistas e organizado criteriosamente a sua coleção.

Pretendendo, de início, restaurar o velho mosteiro, adaptando-o, apenas no essencial, a residência de veraneio, foi dissuadido da intenção pelo artista a quem entregara a chefia das obras, um engenheiro militar alemão – barão Von Eschweg – secundado nesta tarefa pelo arquiteto português, Possidónio da Silva. Nos meados do século XlX predominava uma tendência eclética, cuja inspiração se alimentava de criações de vários períodos histórico-artísticos, desde a Antiguidade até à Idade Média. Nesta perspectiva, Eschweg propusera a organização de um ambiente neogótico, que o monarca recusou, preferindo uma articulação com as tradições artísticas locais e com determinadas soluções regionais preferidas nos séculos XV e XVl. Por esse motivo, empreendeu o barão uma viagem pela Europa, percorrendo a Inglaterra, a Alemanha (Berlim), França, Espanha (Córdova, Sevilha, Granada), pelo Norte de África (Argélia).

É neste contexto que o Palácio surge como pioneiro das concepções arquiteturais românticas em Portugal. A sua planta é de forma irregular, condicionada pelo núcleo anterior e pela topografia que resulta uma íntima ligação entre a paisagem e o edifício.

A primeira grande campanha de obras decorreu até 1849. A edificação originária foi integrada, conservando a antiga capela e retábulo renascença, notável trabalho de alabastro e mármore negro com cenas da vida de Nossa Senhora e da Paixão de Cristo, atribuídas a Nicolau Chantenenne. Os outros sectores sofreram nítida influência do gosto manuelino do Palácio Nacional.

O aspecto exterior do edifício apresenta um equilíbrio marcado, verificando-se um ritmo harmonioso na articulação dos espaços, massas e volumes, criando entre si núcleos dinamizadores do conjunto arquitetônico.

A construção, com as suas torres, o minarete, o remate das muralhas e os contrafortes, elementos estruturais provenientes de gramáticas arquitetônicas do passado, revela extraordinária riqueza quanto à diversidade e um carácter verdadeiramente assimilador, condicionado por um critério romântico, com preferência pelo mudéjar, nomeadamente em elementos decorativos.

Alguns núcleos do palácio definem opções estéticas em revivalismos evidentes. A fachada sul apresenta duas torres oitavadas, envolvidas de azulejos e encimadas por uma cúpula. Destaca-se ainda uma construção retangular na qual sobressai a varanda, apoiada em colunas torsas. A fachada norte está organizada em corpos sólidos e equilibrados.

O Pórtico de Trião, pelas suas características monumentais e decorativas, assim como a janela manuelina, aberta numa parede de azulejos, imitando a original do Convento de Cristo, em Tomar, talvez concebida por Diogo de Castilho, são elementos que bem refletem o interesse revivalista. No interior, a decoração tem vistas panorâmicas ímpares em Portugal.


Quinta da Penha Verde: Dom João de Castro, ao regressar vitorioso do cerco de Diu, requereu a Dom João lll, como penhor dos seus serviços, "um rochedo com seis árvores". Tratava-se do monte das Alvíssaras, na Quinta da Penha Verde, fundada pelo ilustre vice-rei da Índia, que a ela dedicava "grande afeição". De entre várias capelas espalhadas pela Quinta, merece especial referência a de Nossa Senhora do Monte, do mais puro estilo renascentista.

A ermida, de planta circular, foi mandada construir por Dom João de Castro, em 1542. No interior admiram-se, adossadas à parede, elegantes colunas com capitéis esculpidos. A cobertura é feita por uma abóbada semiesférica, rematada por uma cabeça de querubim. Corre a parede da nave um silhar de azulejo do tipo tapete do século XVll. No altar-mor, ordenado de azulejos da mesma época, está colocado um retábulo de mármore branco e negro.


CASA DOS RIBAFRIAS: Belo exemplar da arquitetura civil renascentista, foi mandada construir no século XVl, por Gaspar Gonçalves, alcaide-mor de Sintra. No século XVlll foi propriedade do Marquês de Pombal, que mandou proceder ao seu restauro, conferindo então à fachada o cunho que ainda hoje apresenta. Num dos capitéis figuram a data de 1534 e o nome do mestre da obra, o arquiteto Pêro Pexão. Dá acesso ao andar nobre uma escadaria precedida de um átrio abobadado. No piso superior subsiste uma janela de balcão com balaústres, formando uma galeria em "L", de cunho renascentista, e que abriga uma fonte.


PALÁCIO DE SETEAIS: Magnífico exemplar de mansão nobre do século XVlll, foi mandado edificar por Gildemeeter, cônsul da Holanda.

Aqui, o célebre viajante inglês William Beckford assistiu suntuosas festas, quando o palácio era já propriedade do Marquês de Marialva. Neste palácio estiveram também D. Maria lª e, em 1802 o príncipe regente Dom João e D. Carlota Joaquina, cujas esfinges encontram-se à estrada do palácio. Os dois corpos laterais, encimados por platibandas em estilo neoclássico, foram ligadas por um arca triunfal, em comemoração desta visita.



CAPUCHOS   (Convento de Santa Cruz dos Capuchos): Este Convento fica situado num maravilhoso cenário da Natureza, difícil de descrever, mas que teria decerto lugar nos jardins do Éden. Foi mandado construir em 1560, por Dom Álvaro de Castro em seguimento de um voto de seu pai, o grande vice-rei da Índia, Dom João de Castro.

Diz a tradição que ali viveu um frade de nome Honório, que, durante mais de trinta anos só se alimentou de ervas. A extrema pobreza destes frades era tal que criou nas gentes de Sintra um sentimento de piedade, e assim muitas pessoas iam até ao terreiro de entrada do Convento levar-lhes alimentos.

Os frades viviam em celas muito pequenas, forradas a cortiça, assim como seus pobres leitos. No refeitório encontra-se uma enorme lage de pedra que servia de mesa.

OUTROS MONUMENTOS:
Igreja de São Pedro
Capela de São Lázaro
Capela Nossa Senhora da Piedade
Fonte dos Passarinhos
Palácio da Condessa
Cruz Alta

A origem de Sintra confunde-se com a da própria Nação portuguesa. A serra e a planície foram habitadas desde antiquíssimos  tempos, como atestam os dólmens e  as necrópoles existentes e os preciosos instrumentos pré-históricos guardados no Museu Municipal.

Dos  romanos,  restam  numerosas  lápides  e  urnas  funerárias,  que  se  conservam,  junto  do mausoléu  circular,  no Museu  Arqueológico de Odrinhas.  Os romanos chamavam a serra  de Sintra de "Mons Lunae" (Montanhas da Lua).

Dos tempos hispano-árabes, o monumento mais antigo é o Castelo dos  Mouros, construído na serra, a 450 metros de altitude, entre os séculos VII e IX.

O castelo foi tomado aos mouros em 1147, pelo primeiro Rei de Portugal, Dom Afonso Henriques. Mas é na  vila, a  207 metros  de altitude, que se encontra o  monumento mais  característico, o Palácio Nacional da Vila.

Na  serra, mais  alto  que o  castelo  dos mouros, ergue-se o Palácio da Pena, edificado entre 1840 e 1850 pelo rei Dom Fernando II, no estilo pseudomedieval.

De entre os  outros palácios  há que salientar o de Seteais (séc. XVIII), onde atualmente está instalado um  luxuoso hotel, e o do Ramalhão (séc. XIV,  reconstruído no séc. XVIII), e o da Regaleira (neomanuelino do séc. XIX),  os da  Penha - Verde, da  Piedade e do Vinagre,  nos arredores de Colares.

Ao  longo  dos  séculos, Sintra  foi enaltecida  por famosos   escritores, entre  os quais é  justo destacar  Lord Byron, o primeiro e  genial  turista, cujos versos entusiásticos atraíram a este "glorious eden" numerosos gravadores e pintores que depois espalharam os encantos de Sintra pelo mundo.

Entre Sintra  e Lisboa, deve ainda ser visitado o belíssimo Palácio de Queluz  (séc. XVIII), construído no estilo de Versalhes: antiga residência real, cuja velha cozinha foi transformada em restaurante de luxo.


Quinta da Regaleira (Sintra):  A documentação histórica relativa à Quinta da Regaleira é escassa para os tempos anteriores à sua compra por Carvalho Monteiro (conhecido pelo Monteiro dos Milhões). Sabe-se que, em 1697, José Leite era o proprietário de uma vasta propriedade nos arredores da vila de Sintra, que hoje integra a Quinta.

Francisco Alberto Guimarães de Castro comprou a propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro em 1715), em hasta pública, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma fonte ai existente.

Em 1830, na posse de Manuel Bernardo, a Quinta em toma a designação que atualmente possui. Em 1840, a Quinta da Regaleira é adquirida pela filha de uma negociante do Porto, Allen, que mais tarde foi agraciada com o título de Baronesa da Regaleira. Data deste período a construção de uma casa de campo que é visível em algumas representações iconográficas de finais do século XIX.

A história da Regaleira atual principia em 1892, ano em que os barões da Regaleira vendem a propriedade ao Dr. António Augusto Carvalho Monteiro por 25 contos de réis. A maior parte da construção atual da quinta estava terminada em 1910.

A quinta foi vendida a Waldemar D'Orey em 1942, que, sem ter desvirtuado o que tinha sido concebido, procedeu a pequenas obras de modo a acolher a sua grande família e profundas obras de restauro, já que a casa não era cuidada à muito. Em 1987 a Quinta da Regaleira é adquirida pela empresa japonesa Aoki Corporation, e deixa de servir como habitação sendo entregue ao cuidado de caseiros e permanece fechada ao público.

Em 1997, a Câmara Municipal de Sintra adquire este valioso património, iniciando pouco depois um exaustivo trabalho de recuperação do patrimônio edificado e dos jardins.

Atualmente a Quinta da Regaleira está aberta ao público e é anfitriã de diversas atividades culturais. É um dos lugares mais místicos de Portugal.

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal