Bicho-da-Seda
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite
Ribeiro
Seda, é uma substância à base de fibroína e sericina segregada sob forma de
fio fino e brilhante pela larva do bicho-da-seda. A fibra de seda natural é um filamento
contínuo de proteína, produzido pelas lagartas de certos tipos de mariposas, sendo
uma das matérias-primas mais caras. As lagartas expelem através das glândulas o
líquido da seda (a fibroína) envolvido por uma goma (a sericina), os quais se
solidificam imediatamente quando em contato com o ar.
A seda é utilizada para
se produzir tecidos leves, brilhantes e macios. Os tecidos são usados em
camisas, vestidos, blusas, gravatas, xales, luvas etc. A seda tem uma aparência
cintilante, devido à estrutura triangular da fibra, parecida com um prisma, que
refrata a luz. Acredita-se que os chineses começaram a produzir seda por volta
do ano 2700 antes de Cristo.
Reza a lenda que a imperatriz Hsi Ling Chi
descobriu a seda quando um casulo de bicho-da-seda caiu de uma amoreira dentro
de sua xícara de chá. Depois de experimentar algumas vezes, ela, finalmente,
conseguiu tecer o filamento da seda em um pedaço de tecido.
A seda era
considerada a mais valiosa mercadoria da China e gerou a famosa rota da Seda, a
mais importante rota comercial da época. A manufatura da seda era um segredo de
estado, muito bem guardado até o ano 300, quando se tornou conhecida na Índia.
Ou seja: 3.000 anos após sua descoberta pelos chineses. Existem muitas lendas e
mitos que contam o surgimento da seda, mas foi na China que tudo começou.
Na
cultura chinesa, a Imperatriz Hsi Ling Shi (também chamada Lei Zu, esposa do
imperador amarelo, Huang Di), é venerada como “a deusa da seda” por ter
inventado o tear e tê-lo utilizado na produção de tecidos de seda.
Testemunhos
arqueológicos da época Shang (século XVI ao século XI antes de Cristo) mostram
que a sericicultura – cultura do bicho-da-seda, já se encontrava em estágio
muito avançado. Concretamente há evidências da existência de um ideograma para
seda, em língua chinesa, em torno do ano 2.640 antes de Cristo. Por muitos
séculos apenas a China produzia a seda. Ninguém mais sabia como fabricá-la e
qualquer pessoa naquele país que revelasse o segredo do bicho-da-seda era
executada como traidora. Portanto, não surpreende saber que o monopólio chinês
na fabricação de seda a tenha tornado caríssima.
Durante a dinastia Han (entre
206 antes de Cristo, a 24 depois de Cristo), a seda chinesa já era famosa em
todo o mundo devido ao intenso tráfego comercial entre a China e Europa. Em
todo o Império Romano a seda valia seu peso em ouro. No século III antes de
Cristo, as exportações chinesas tiveram início pela “Rota da Seda”: levando e
trazendo para o ocidente a seda, ouro, prata e retornando com lãs para o
Oriente.
A Rota da Seda tinha cerca de quatro mil quilômetros e se estendia do
leste da China ao Mar Mediterrâneo. Usado por caravanas, o caminho seguia da
Grande Muralha da China para o noroeste, contornando o deserto de Takla Makan,
subindo a cordilheira Pamir, atravessando o Afeganistão moderno e passando pelo
Levante, um mercado comercial importante em Damasco, atual Síria. De lá, as
mercadorias eram enviadas através do mar Mediterrâneo. Poucas pessoas viajaram
todo o percurso. As mercadorias eram manipuladas principalmente por uma série
de intermediários.
Os chineses mantiveram o monopólio sobre a produção mundial
de seda até cerca de 200 antes de Cristo, quando a Coreia viu o surgimento de
sua própria indústria graças a um punhado de imigrantes chineses que haviam se
estabelecido lá. Aproximadamente no ano 300 depois de Cristo, a sericicultura
se espalhou para a Índia, o Japão e a Pérsia, com a seda se tornando parte da
história dessas culturas.
O segredo da fabricação da seda chegou à Europa
apenas em 550 depois de Cristo através do Império Bizantino. Segundo uma lenda,
monges que trabalhavam para o imperador Justiniano contrabandearam ovos do
bicho-da-seda para Constantinopla em gomos de bambu oco. Os bizantinos
mantiveram o segredo tanto quanto os chineses, e por muitos séculos a tecelagem
e comercialização de tecidos de seda era um monopólio estritamente do império.
No século VII, os árabes conquistaram a Pérsia, capturando suas magníficas
sedas. Desta forma, a sericicultura e a tecelagem da seda espalharam-se pela
África, Sicília e Espanha. A Andaluzia foi o principal centro europeu de
produção de seda no século X. Houve também produção do tecido pelos mercadores
de Veneza. Já no século XIV, as cidades italianas de Gênova, Florença e Lucca,
ficaram famosas pelas suas tecelagens de seda. A França, a partir da segunda
metade do século XV, começou a estimular a indústria local fazendo com que Lyon
se tornasse um dos maiores centros mundiais de tecelagem de seda, posição
mantida até hoje.
Bicho-da-seda é a larva de uma espécie de mariposa (Bombyx mori) usada na
produção de fios de seda. Este inseto é nativo do Norte da China, mas encontra-se
atualmente distribuído por todo o mundo em quintas de produção de seda,
denominada sericicultura.
O bicho-da-seda alimenta-se exclusivamente de folhas
de Amoreira, ao longo de toda a sua fase de vida larvar (lagarta). Ao fim de um
período de pouco mais de um mês, a lagarta torna-se amarelada e começa a
segregar um fio que usa para formar o casulo onde se dará a metamorfose para o
estado adulto (imago). É esse casulo que serve de fonte para a seda.
Estas
mariposas que produzem a seda (Bombyx mori) foram domesticadas a cerca de 3.000
anos antes de Cristo, nos países asiáticos (possivelmente na China), e por isso
não conseguem sobreviver no ambiente natural. Vivem apenas criadas pelo homem
de quem dependem para serem alimentadas e não conseguem voar.
É como dizer que
suas asas atrofiaram nestes séculos de domesticação. Existem mais de 400
espécies desta raça e hoje inúmeros cientistas trabalham na preservação do
banco de germoplasma para, através de cruzamentos específicos, buscarem
melhores híbridos para produção de seda, possibilitando, assim, melhores
resultados na cadeia produtiva, desde o sericicultor até a indústria têxtil.
A Rota da Seda era uma série de rotas interligadas através da Ásia do
Sul, usadas no comércio da seda entre o Oriente e a Europa. Eram transpostas
por caravanas e embarcações oceânicas que ligavam comercialmente o Extremo
Oriente e a Europa, provavelmente estabelecidas a partir do oitavo milênio
antes de Cristo - os antigos povos do Saara possuíam animais domésticos
provenientes da Ásia - e foram fundamentais para as trocas entre estes
continentes até à descoberta do caminho marítimo para a Índia. Conectava
Chang'an (atual Xi'an) na República Popular da China até Antioquia na Ásia
Menor, assim como a outros locais. Sua influência expandiu-se até a Coreia e o Japão. Formava a
maior rede comercial do Mundo Antigo.
Estas rotas não só foram significativas para o desenvolvimento e florescimento
de grandes civilizações, como o Egito Antigo, a Mesopotâmia, a China, a Pérsia,
a Índia e até Roma, mas também ajudaram a fundamentar o início do mundo
moderno. Rota da seda é uma tradução do alemão Seidenstrabe, primeira
denominação do caminho feita pelo geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen no
século XIX.
A rota da seda continental divide-se em rotas do norte e do sul, devido à
presença de centros comerciais no norte e no sul da China. A rota norte
atravessa o Leste Europeu (os mercadores criaram algumas cidades na Bulgária),
a península da Crimeia, o mar Negro, o mar de Mármara, chegando aos Balcãs e
por fim, a Veneza; a rota sul percorre o Turquemenistão, a Mesopotâmia e a
Anatólia. Chegando a este ponto, divide-se em rotas que levam à Antioquia (na
Anatólia meridional, banhada pelo Mediterrâneo) ou ao Egito e ao Norte da
África. A última estrada de ferro conectada à rota da seda contemporânea foi
completada em 1992, quando a via Almaty-Urumqi foi aberta. A rota da seda
marítima estende-se da China meridional (atualmente Filipinas, Brunei, Sião e
Malaca) até destinos como o Ceilão, Índia, Pérsia, Egito, Itália, Portugal e
até a Suécia. Em 7 de agosto de 2005, foi confirmado que o Departamento do
Patrimônio Histórico de Hong Kong pretende propor a Rota da Seda Marítima como
Patrimônio da Humanidade.
Muitas caravanas já seguiram essa rota antiga desde 200 a.C. No passado remoto,
os chineses aprenderam a fabricar seda a partir da fibra branca dos casulos dos
bichos-da-seda. Só os chineses sabiam como fabricá-la e mantinham esse segredo
muito bem guardado. Quando eles fizeram contato com as cidades do Ocidente,
encontraram pessoas dispostas a pagar muito caro pela seda. Os dois lados
da rota aprenderam muito sobre culturas diferentes das suas, e isso expandiu
suas ideias sobre o mundo.
O viajante veneziano Marco Polo percorreu a Rota da Seda no século XIII. Quando
as técnicas da navegação e da domesticação de bestas de carga foram assimiladas
pelo Mundo Antigo, a sua capacidade de transporte de grandes cargas por longas
distâncias foi muito melhorada, possibilitando o intercâmbio de culturas e uma
maior rapidez no comércio. Por exemplo, a navegação no Egito pré-dinástico só
foi estabelecida no século IV antes de Cristo, período em que a domesticação do
burro e do dromedário começaram a ser instituídas. A domesticação do camelo
bactriano e o uso do cavalo como meio de transporte foram feitas em seguida.
Os povos antigos do Saara já haviam importado animais domesticados da Ásia
entre 7500 antes de Cristo e 4000 antes de Cristo. Artefatos datados do 5º
milênio antes de Cristo, encontrados em sítios bádaros do Egito pré-dinástico
indicam contato com lugares distantes, como a Síria. Desde o começo do 4º
milênio antes de Cristo, egípcios antigos de Maadi importavam cerâmica e
conceitos de construção dos Cananeus. Pensa-se que tenham sido usadas rotas que
acompanhavam a Estrada Real Persa (construída por volta do ano 500 AC) desde 3.500 AC. Existem evidências de que exploradores do
Antigo Egito podem ter aberto e protegido novas ramificações da rota da seda.
No tempo de Heródoto, a Estrada Real Persa percorria 2.857 km da cidade de Susa,
no baixo Tigre até o porto de Esmirna (moderna Izmir na Turquia) no mar Egeu.
Era mantida e protegida pelo império Aquemeu, e possuía estações postais e
estalagens a intervalos regulares. Com cavalos descansados e viajantes prontos
a cada estalagem, mensageiros reais podiam carregar mensagens em até nove dias,
ao contrário de mensageiros normais que demoravam cerca de três meses. A
Estrada Real era conectada a outras rotas.
Muitas delas, como as rotas indianas e centro-asiáticas, também eram protegidas
por Aqueménidas, que mantinha contato regular com a Índia, a Mesopotâmia e o
Mediterrâneo. Existem registros em Ester de despachos feitos em Susa para
províncias indianas e para o Cush durante o reinado de Xerxes. O primeiro
grande passo para a abertura da rota da seda entre leste e oeste veio da
expansão de Alexandre o Grande no interior da Ásia Central. Alexandre chegou a
Fergana, às fronteiras de Xinjiang (região chinesa, onde ele fundou em 329 antes
de Cristo um assentamento grego na cidade de Alexandria Eschate - Alexandria, a
distante), e Khujand (agora Leninabad), no Tadjiquistão.
Quando os sucessores de Alexandre, o Grande (os Ptolomeus), assumiram o
controle do Egito, em 323 antes de Cristo, começaram a estimular o comércio
(com a Mesopotâmia, a Índia e o leste da África) por intermédio dos seus
portos no Mar Vermelho e de rotas terrestres. Isto era supervisionado por uma
ativa participação de intermediários, especialmente os nabateus e outros
árabes.
Os gregos permaneceram na Ásia Central por mais três séculos, primeiramente
através da administração do Império Selêucida e mais tarde estabelecendo o
reino Greco-Bactriano na Báctria. Eles continuaram a expandir-se em direção ao
oriente, especialmente durante o reino de Eutímides, que expandiu o seu
controle à Sogdiana, atingindo e superando a cidade de Alexandria Eschate.
Existem indicações que teriam liderado expedições longas, como a Kashgar,
no Turquestão Chinês. Também devem ter iniciado as primeiras relações entre
China e o oeste por volta de 200 antes de Cristo. O historiador grego
Estrabão escreve que "eles estenderam o seu império a locais como Seres
(China) e Phryni".
Trabalho e
pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
Aprendi mais um pouco sobre o bicho da seda que conheço bem,fisícamente em amoreiras,e é interessante ver seu modo de vida e utilidades.Das histórias e lendas sobre o mesma não conhecia muito.
ResponderExcluirAbraços
Excelente esse trabalho do CEN, muito bem exposto, constituindo uma aula completa sobre a utilidade do produto segregado por esse simpático e operoso bichinho denominado "bômbix", que origina a fabricação da seda, um tipo de fazenda dos mais belos e importantes na indústria do vestuário. Parabéns ao CEN por mais esse ótimo trabalho.
ResponderExcluirHumberto-Poeta - vate2006@gmail.com São Paulo,Brasil.