Porto – Cidade e Capital, também sede de concelho do
Distrito do Porto
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Um velho adágio, epigramático, diz: “Lisboa
diverte-se; Coimbra canta; Braga reza; o Porto trabalha”.
Na verdade, o velho
burgo, pelo seu feitio, tem o seu quê de áspero e de canseiroso. Fazer rir o
Porto é caso sério. Camilo Castelo Branco, que o conheceu por dentro e por
fora, bem o sentiu, pagando com usura os sarcasmos que por vezes lançou sobre
os severos lojistas de então, de carregado semblante, que nele viam uma espécie
de segunda encarnação do Anjo Negro e o julgavam mais digno do quarto
aferrolhado da Relação do que deambular, com as botas altas à Frederico e a
sobrecasaca azulada, pelo passeio das Cardosas, como um mefistofélico desafio
ao “sossego das famílias”.
Muitos escritores e viajantes, nacionais e
estrangeiros, têm reconhecido a singularidade do meio social do Porto e
tentando definir o indefinível perfil étnico do genuíno portuense Ramalho
Ortigão, por exemplo, tripeiro de gema, mas emigrado, escreveu com a sua
costumada verve: “O portuense é o homem mais delicado, mais serviçal, mais bom
homem. Somente há três coisas de que ele não gosta – e nesse ponto é mau
brincar com ele. Não gosta de Lisboa. Não gosta da polícia. Não gosta da
autoridade. Da autoridade, vinga-se desprezando-a. Da polícia vinga-se,
resistindo-lhe. De Lisboa vinga-se, recebendo os lisboetas com a mais amável
hospitalidade e com a mais obsequiada bizarria”.
Povoado castrejo no Alto da Penaventosa ou Póvoa incipiente na Ribeira, ali ao
Barredo, associa-se geralmente ao topônimo Cale do Itinerário de Antonino. Foi
certamente o Portucale locus necessário à passagem do Rio Douro e mais tarde,
já sem dúvida, no alto, o castrum novum suevorum. Nas vicissitudes da
Reconquista conhece por várias vezes a destruição. Foi cedo bispado. Vimara
Peres, sob armas de Leão, tê-lo-á expugnado definitivamente do jugo mouro.
A primitiva povoação surgiu de um pequeno e arruinado largo em volta da Sé,
doado por D. Teresa ao bispo D. Hugo, em 1120, que se apressou a dar foral aos
do burgo.
Rodeado por uma estreita cerca de muralhas, devido aos muitos privilégios
concedidos pelos monarcas afonsinos, depressa estes muros foram transpostos, e
na época de D. Fernando novas muralhas foram edificadas, continuando burgo a
desenvolver-se rapidamente. No século XVl, o surto populacional aumentou e com
ele a construção, desenvolvendo-se a povoação para além das muralhas a partir
do século seguinte.
D. Manuel l, concedeu foral novo. Muito marcado pelo período filipino, sofrendo
aliás, como todo o País, o desaire dos desmandos, entregue a uma latente
atividade mercantil, mas nunca virando as costas à área já então de forte
densidade populacional em relação ao resto do País e acentuando cunho agrícola,
vai lentamente saindo dessa aparente letargia. Já em pleno século XVlll que de
novo atinge as alturas dos seus pergaminhos de cidade empreendedora. O
enriquecimento vem a traduzir-se por múltiplos aspetos. Esplende no barroco
nasoniano, que deixa na cidade, em alguns dos seus templos, a marca indelével
desse facto.
O terremoto de 1755 não mais fizera que pequenos estragos no
Porto, mas na sequência da reconstrução de Lisboa, com a influência dos
ingleses e a ação dos Almadas, o Porto vai conhecer um surto de engrandecimento
notável. Embora à custa principalmente da recessão das indústrias de tecelagem,
mas apoiada na crescente importância do comércio do vinho do Alto Douro,
trazido rio abaixo e aí embarcado, e que então se passa a conhecer por vinho do
Porto, a cidade acrescenta-se em população.
As colônias de ingleses e outros
europeus aumentam e desses tempos provêm alguns nomes dessa origem que aqui se
estabeleceram e radicaram, criando família, casas, gostos e costumes que hoje
podem considerar-se também caracterizantes das gentes portuenses.
Já no século XlX, porém, novas ideias, riqueza acrescida, força de
empreendimento, um luzido escol de gente de saber, políticos, capitais e,
sobretudo, uma indesmentível força popular, afeita ao trabalho, resistente e
continuadamente ciosa de seu pergaminho de independência e liberdade, dão à
cidade do Porto o seu cunho moderno.
A cidade do Porto tem a sua história ligada indissoluvelmente ao rio Douro e ao
Oceano Atlântico. Nascida, naturalmente, das vicissitudes da passagem do
primeiro (Douro) na sua margem direita e alguns quilômetros da sua foz, cedo o
mar também a marcou. É possível que mesmo antes de ter existido a frustre Póvoa
que lhe foi berço já os Focenses aí tivessem – algures em São João da Foz –
“imporia” para os seus comércios com o interior através do Douro.
Origem do nome:
«Prof. Vasco Botelho de Amaral, em, O Povo e a Língua – 1949»:
“ Abrindo “Os Lusíadas” lemos isto no Canto Vl, estância 52:
“Lá na leal cidade deve...
origem – como é fama – o nome eterno de Portugal
Bem fez Camões, prudentemente, escrever “como é fama” porque há ainda nevoeiros
à volta do porto de Cale, que era com certeza no Douro, mas não se sabe, ao
certo, se na margem direita (no monte da Cividade, segundo a tese do Dr. Mendes
Correia), se na margem esquerda, em Gaia, como a tradição tem sustentado.
Como quer que seja, não se pode tirar
à “Leal Cidade” dos tripeiros a boa fama de lá, ou bem perto, haver nascido o
nome de Portugal, de Portus Calem.
Note-se que não é insólito este caso
da palavra porto (o equivalente em outras línguas) passar a topônimo. Na Mauritânia havia o Portus Magnus
(Porto Magno); nos nossos tempos toda a gente conhece nomes, como, por exemplo,
o Porto Rico, etc.; nas línguas germânicas há vários casos como Southport na
Inglaterra, Wilhelsmshaven na Alemanha, etc., etc.”.
Cedo o Porto demonstrou o seu grande
potencial na construção naval, quer a nível industrial, quer comercial. A esse
potencial não são alheias as ligações inquebráveis que o Porto possui com o
Douro e com o Atlântico.
Assim pelo século XIV adiante foi o
Porto o principal centro português de construções navais. Envolto nos enredos
do mar, lançado na imensidão dos oceanos em busca de novas paragens, navios,
marinheiros e população integraram interesses e esforços de muitas formas e,
logo aquando da expedição à conquista de Ceuta, o infante D. Henrique, nascido
na Invicta, ali organiza uma formosa esquadra que levou a juntar-se ao rei que
esperava em Lisboa antes de partirem par o Norte de África.
E foi por tal empenhamento que os
portuenses receberam a alcunha de Tripeiros, pois segundo contam, o comprometimento
do povo levou a que fornecessem as naus e galeras com as carnes ficando apenas
as tripas como alimento dos que por cá ficaram.
Como louvores dos feitos prestados,
muitos foram os portuenses que inscreveram os seus nomes na história.
Ao longo da história o Porto foi
sempre muito cobiçado, pelas riquezas, privilégios, autonomia e tradição que o
caracterizavam, mas com o Foral Manuelino de 20 de Junho de 1517 o Porto perdeu
grande parte dos seus privilégios, sendo D. Manuel considerado o rei inimigo,
que deu início à mesquinha, absurda e funesta política da centralização dos
poderes e serviços. Contudo o povo portuense sempre honrou o seu carácter
coletivo, através do seu espírito de independência e o seu amor à liberdade.
Muito marcada pelo desaire do
período filipino, é já no século XVIII que de novo atinge as alturas dos
pergaminhos de cidade empreendedora. Renovando as indústrias correlativas
derivadas das velhas atividades mercantis de cabotagem e longo curso. Mas o
engrandecimento da cidade não resplandece apenas nas atividades comerciais,
expandindo-se às artes, como é o barroco neroniano marcado em alguns templos da
cidade.
Uma das características deste estilo
é o recurso à policromia e à exuberância das formas, bem como a conjugação de
revestimentos a ouro com a pintura e o azulejo criando ambientes de rara
beleza.
Em 1755 o Porto é marcado por um
terremoto que apenas provocou pequenos estragos, na sequência da reconstrução
de Lisboa, a influência inglesa e a ação dos Almadas, trazem para a cidade um
surto de engrandecimento admirável. Sobrecarregada com a crise da
tecelagem, mas apoiada no comércio do vinho do Alto Douro, trazido rio abaixo e
embarcado no Porto, facto que se traduziu no nome pelo qual esse vinho é
conhecido, a cidade vê aumentar ainda mais o seu núcleo populacional com
colónias de ingleses e outros europeus que se estabeleceram e radicaram na
cidade.
No século XIX o Porto é massivamente
modernizado através de novas ideias, riqueza acrescida, força empreendedora, um
deslumbrante escol de gente de saber, políticos, capitais e sobretudo a
inegável força popular, afeita ao trabalho, resistente e ciosa dos seus
pergaminhos de independência e liberdade.
Os portuenses intervêm repetidas
vezes nos próprios destinos políticos da Pátria. Sofreram a ocupação dos
invasores, não se aquietando na sua expulsão, retendo-lhes as ideias mais
benéficas, não admitindo tutelas, defendendo-se com armas, vidas e bens.
Com uma determinação impar, a cidade
foi crescendo, organizando-se administrativa, financeira e culturalmente,
constituindo-se numa capital regional que ainda hoje é.
Ao longo do século XX o cunho que a
caracterizou sempre manteve-se e hoje a cidade está populacionalmente estabilizada.
Dela partiram as primeiras ações
republicanas, sendo simultaneamente um dos grandes pilares políticos e
econômicos do País. E ainda foi o polo de crescimento industrial significativo
quer internamente, quer nas regiões vizinhas. Assim falar do Porto é começar sem
nunca conseguir terminar de relatar todos os seus feitos, tradições, costumes,
belezas...
A cidade velha de séculos,
contrastante com o fervilhar de atividades e ideias não se pode nunca destituir
das gentes que lhe dão vida, carácter e cunho. Gentes de linguagem marcada, sonora
e garrida, trabalhadora e entusiasta, vibrante com seus ídolos desportivos,
áspera e livre na crítica e jubilosa nos folguedos.
O Porto congrega, cria, difunde
densos cambiantes de contrastes sendo por isto o símbolo portuguesíssimo de um
progresso que não se envergonha do passado, mas nele sustenta o futuro.
Por tudo isto é considerada a mais
imponente cidade do Norte merecendo a justa classificação de Patrimônio
Mundial.
Um símbolo, uma cidade.
Muitas foram as alterações deste
marco representativo da cidade, muito embora seja de apontar que a sua
estrutura básica se manteve ao longo de diferentes reinados apenas tendo sido
acrescentado pormenores artísticos e caracterizadores desta tão bela cidade
situada nas margens do Douro que carinhosamente molha os pés dos portuenses.
O original brasão da Invicta
representava «uma cidade de prata, em campo azul sobre o mar de ondas verdes e
douradas». Em 1517 sofre a primeira
alteração, ao qual foi incluído a imagem de Nossa Senhora de Vandoma, com o
menino Jesus nos braços sobre um fundo azul e entre duas torres. Em 1813 e quando da segunda modificação, a imagem de Nossa Senhora aparece ainda ladeada
por duas torres encimadas por um lado por um braço e por outro por uma
bandeira. Em 1834 no reinado de D Pedro IV ao brasão foi introduzido uma
inscrição «Antiga, mui Nobre sempre Leal e Invicta cidade».
Este brasão era então constituído
por um escudo esquartelado, cercado pelo colar da Ordem da Torre e Espada,
tendo nos primeiros e quartos quartéis as armas de Portugal e nos segundos e
terceiros as antigas armas da cidade. Encimava o escudo um dragão verde assente
numa coroa ducal, sobressaía uma longa faixa com a legenda Invicta.
A última alteração, em 1940, do
brasão dá-lhe a forma atual conhecida por todos, representado pelas armas.
Apresenta-se assim de azul com um castelo de ouro, constituído por um muro
ameado e franqueado por duas torres ameadas, aberto e iluminado a vermelho,
sobre um mar de cinco faixas ondeadas, sendo três de prata e duas de verde. Sobre
a porta assente numa mesura de ouro a imagem da virgem com diadema na cabeça,
segurando um manto azul e com o menino ao colo, ambos vestidos de vermelho,
acompanhados lateral e superiormente por um esplendor que se apoia nas ameias
do muro.
Em destaque dois escudos de Portugal antigo. No cimo
uma coroa mural de prata, de cinco torres e um coral da ordem militar da Torre
e Espada, do Valor e do Mérito. A listel branco a inscrição «Antiga, mui Nobre
sempre Leal e Invicta cidade do Porto».
A conquista de Portucale em 868 por
Vímara Peres, guerreiro de Afonso III, de Leão, é aqui considerada, com razão,
acontecimento da mais antiga História do Porto. A povoação de Portucale in
Castro Novo era desde a segunda metade do século VI, desde os tempos dos Suevos,
sede da Diocese Portugalense, mas a partir de 868 a sua importância aumenta: torna-se
o centro do movimento de reconquista e de aglutinação das terras circundantes,
as quais por tal facto em meados do século X passam a constituir a província
portugalensis, a cujos habitantes logo se dá o nome de portugalenses, e entre
os quais começam a surgir as primeiras e vagas manifestações de sentimento
nacional.
Portucale, foi, por isso, na verdade, quem deu nome e origem à Nação
Portuguesa!
Em 1120, a Rainha D. Tareja viúva do conde D. Henrique, doa ao
Bispo D. Hugo e os seus sucessores o pequeno Burgo do Porto e um Couto a que o
Bispo dá Foral em 1123, e cujos limites D. Afonso Henrique mais tarde confirmou
e ampliou. Em 1147 entraram no Douro os Cruzados nórdicos que faziam parte da
Segunda Cruzada à Terra Santa e é o Bispo do Porto D. Pedro Pitões quem lhes
prega no Crasto de Portucale, no alto do monte, em frente da Sé, um eloquente
sermão, exortando-os a irem auxiliar D. Afonso Henrique na conquista de Lisboa;
depois o Bispo Portugalense acompanha a armada e toma parte na bélica empresa.
Caída em poder dos Cristão a formosa Princesa do Tejo, entrou o Porto
rapidamente a desenvolver-se. Cresce em população e importância econômica, e os
burgueses envolvem-se em questões e em lutas com os seus Bispos, aos quais,
aliás, o Burgo devia, mas de cuja subordinação temporal os revoltosos ansiavam
libertar-se. Não raro o Rei serviu de medianeiro entre as partes desavindas,
sendo D. João I quem, ao cabo de dois séculos, faz terminar essas contendas,
consentindo em comprar aos Bispos do Porto o direito à jurisdição temporal que
estes diziam ter sobre o Burgo e respectivo coutos.
Ao mesmo Mestre de Avis,
porque se apresentava como Regedor e Defensor de Portugal contra os
Castelhanos, o Porto prestara tais serviços na crise de 1383-1385, que dele
recebeu o título de MUI NOBRE E SEMPRE LEAL CIDADE.
Segue-se o Ciclo das
Conquistas e Descobrimentos Ultramarinos. Da mesma forma que do norte do país
tinham saído os guerreiros que conquistaram o sul aos Mouros, também do Norte,
onde nasceu o portuense Infante D. Henrique e tantos navegadores, partiu um
decisivo impulso para as grandes navegações marítimas; o Porto, no século XV, era
uma das cidades das Espanhas onde mais navios se fabricavam e donde mais
marinheiros saíram.
Mas nem só o comércio e as navegações interessavam aos
burgueses do Porto. Também entre eles houve muitos e excelentes cultores das
Belas-Artes que honraram a cultura nacional, desde, segundo é fama, o Vasco de
Lobeira, do Amadis de Gaula, até aos poetas do Cancioneiro de Garcia de Resende
como Diogo Brandão e Fernão Brandão, ou ao celebrado Pero Vaz de Caminha, autor
insigne da Carta do Achamento do Brasil, mundialmente conhecida e admirada.
Quando, após o cativeiro filipino, Portugal recupera a independência, o Porto
assume entusiasticamente um papel de relevo nas lutas da Restauração e sustenta
à sua custa um Terço de Tropas. Pela Pátria, o Porto solta em 1808 o grupo de
revolta contra Junot e sofre em 1809 todo o peso da invasão de Soult, bem como
as suas trágicas consequências.
Mas nem tudo são guerras na História do Porto.
Na segunda metade do século XVIII a Cidade, que se enriquecera
extraordinariamente, cresceu, monumentalizou-se, modernizou-se graças aos
Almadas: e no século XIX o Porto deu à Nação poetas como Garrett e criou
escultores da grandeza de Soares dos Reis. É claro que na base de todas as
ações coletivas dum povo está o próprio povo: a gente obscura, cujos nomes não
ficaram na história, mas que trabalhou, sofreu e se sacrificou, que deu a sua
fazenda, as suas forças e a sua vida para que as pátrias fossem gloriosas e
grandes.
Não o esqueceu Guilherme Camarinha, nas tapeçarias da Câmara Municipal
do Porto, pois colocou em lugar de relevo na base da sua assombrosa composição
os lavradores, os mesteirais, os carpinteiros, os petintais, os carniceiros, a
trabalhar na preparação da armada que da Ribeira do Douro no ano de 1415 partiu
para Ceuta sob o comando do Infante D. Henrique.
O povo do Porto, entre cujas qualidades avulta a de um profundo sentimento de
civismo, deu quanto tinha para o aparelhamento e abastecimento desses navios;
generosa e patrioticamente os portuenses cederam toda a carne das rezes, e
porque, para sua alimentação, só ficaram com as vísceras desses animais,
ganharam um epíteto que é o seu mais lídimo título de orgulho: - o de Tripeiros!
A GENTE DO PORTO
O Porto orgulha-se de ser conhecido como a cidade do trabalho. De fato, os
seus habitantes desde sempre estiveram na primeira linha em defesa das causas
nacionais e contribuíram largamente para o desenvolvimento da epopeia dos
Descobrimentos e para o progresso econômico da região. Ainda hoje o norte do
país é reconhecido como uma das áreas mais dinâmicas do tecido empresarial
português.
A rudeza imposta pelo trabalho é, porém, superada pelo carácter
franco e hospitaleiro da sua gente. O dinamismo dos habitantes do Porto não
consegue disfarçar a sua paixão pelas coisas, dando-lhe uma imagem da
autenticidade e de respeito.
Ponte D. Luís l - um dos ex-libris do Porto
Constituída por dois tabuleiros metálicos, que
se destinavam a fazer a ligação rodoviária entre Vila Nova de Gaia e o Porto.
Tem de comprimento cerca de 395 metros e de largura 8 metros, compostos por 5,5
metros de faixa de rodagem e 1,25 metros de passeios.
A obra foi adjudicada a 28 de Novembro de 1881, por concurso aberto e foi o
engenheiro Teófilo Seyrig quem ficou encarregado pelo projeto.
A construção desta ponte permitia a passagem da estrada real vinda de Lisboa
até às províncias do Norte e do Norte do País, tendo constituído umas das obras
de maior envergadura no plano rodoviário realizado pelo monarca Luiz I.
Ponte Pênsil: A ponte D. Luiz, construída ao lado do local onde existiu a
antiga Ponte Pênsil tem os dois tabuleiros sustentados por um imponente arco de
ferro e por cinco pilares.
O arco é formado por duas curvas parabólicas divergentes. O tabuleiro superior
apoia-se nos encontros de cantaria e nos três pilares de cada margem do rio. Na
sua totalidade foram gastos 3000 toneladas de ferro, sendo que deles 172 metros
são de corda e 45 metros são de flecha, componentes do arco da ponte.
O tabuleiro superior foi inaugurado a 31 de Outubro de 1886, dia do aniversário
natalício de el-rei D. Luiz, ao qual assistiram, para além das autoridades
governamentais, as autoridades municipais administrativas e religiosas da
cidade do Porto e de Vila Nova de Gaia.
Infante D. Henrique - (O Navegador)
A Rainha D. Filipa de Lencastre,
encontrando-se grávida, repousara durante largos meses nos Paços de Atouguia da
Serra. Por motivos que se desconhecem, a Corte deixou a referida estância por
volta de 3 de Fevereiro de 1394 e pôs-se a caminho do Porto. A viagem foi
relativamente apressada, tendo a comitiva feito etapas em Leiria (onde se
encontrava no dia 7) e Coimbra (onde estava no dia 12). A chegada ao Porto
dá-se antes de 20 de Fevereiro, pois já nesta data a vereação reclama contra os
distúrbios causados na cidade, pela pousadia do pessoal que acompanhava D. João
I.
Conta Fernão Lopes que «naceo depois... o Infante dom Anrrique na cidade do
Porto hua quorta feira de cinza IIII dias do mes de Março ... ». ("Nasceu
depois... o Infante D. Henrique na cidade do Porto numa quarta-feira de cinzas
no dia 4 do mês de Março...") Refere-se o cronista ao dia 4 de Março de
1394 e, segundo os estudos mais recentes, terá nascido numa casa que era
pertença da coroa, uma casa que reuniria todas as condições para uma estada
longa de vários meses. Essa casa seria a da Alfândega Real, também então
designada por Casa do Tesouro, "almazem e casas" do almoxarifado do
Porto e que tradicionalmente nos habituamos a designar por "Casa do
Infante".
A permanência da Corte nesta Cidade teve uma duração pouco comum, decerto para
permitir o restabelecimento da Rainha e os cuidados devidos ao recém-nascido
Príncipe bem como à realização do batizado. A presença de D. João no Porto está
confirmada, pelo menos, desde 20 de Fevereiro a 23 de Novembro. Batizado do Infante D. Henrique.
Ao Porto e às suas gentes coube a honra de
assistir e participar nos folguedos que por toda a cidade iam decorrendo
durante as bodas do ilustre casal, D. João I e D. Filipa de Lencastre, ao Porto
está também ligado o nascimento daquele que foi um dos mais prestigiados
Infantes nascidos deste casamento. É natural que, na altura tenham ocorrido
alguns festejos populares espontâneos do batismo do Infante.
Nascido em 4 de Março de 1394, o Infante é batizado no mesmo ano na Sé Catedral
do Porto. A Câmara Municipal do Porto e outras instituições urbanas se
associaram para organizar, como era costume, esses festejos tão importantes.
São poucas as informações acerca destes festejos, o que se sabe está num
pergaminho guardado no Arquivo Histórico Municipal onde estão presentes todas
as despesas feitas na preparação e decorrer dessas festas.
A Lenda do Tripeiros - Gentil Marques (1955)
No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que
haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais
tarde, à epopeia dos Descobrimentos.
A razão deste empreendimento era secreta e
nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações
eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se
casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para
visitar o Santo Sepulcro. Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a
armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles
para ali se casarem...
Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto para ver
o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço despendido, achou
que se poderia fazer ainda mais. E o Infante confidenciou ao mestre Vaz, o fiel
encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua
origem: a conquista de Ceuta. Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e
sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o Infante o mesmo
que tinham feito cerca de trinta anos atrás quando da guerra com Castela:
dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas.
Este sacrifício
tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante
D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma
verdadeira honra para o povo do Porto. A História de Portugal registou mais
este sacrifício invulgar dos heroicos "tripeiros" que contribuiu para
que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus,
partisse a caminho da conquista de Ceuta.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal