terça-feira, 2 de julho de 2013

Bicho da Seda

Bicho-da-Seda
  

Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro


Seda, é uma substância à base de fibroína e sericina segregada sob forma de fio fino e brilhante pela larva do bicho-da-seda. A fibra de seda natural é um filamento contínuo de proteína, produzido pelas lagartas de certos tipos de mariposas, sendo uma das matérias-primas mais caras. As lagartas expelem através das glândulas o líquido da seda (a fibroína) envolvido por uma goma (a sericina), os quais se solidificam imediatamente quando em contato com o ar.

A seda é utilizada para se produzir tecidos leves, brilhantes e macios. Os tecidos são usados em camisas, vestidos, blusas, gravatas, xales, luvas etc. A seda tem uma aparência cintilante, devido à estrutura triangular da fibra, parecida com um prisma, que refrata a luz. Acredita-se que os chineses começaram a produzir seda por volta do ano 2700 antes de Cristo.

Reza a lenda que a imperatriz Hsi Ling Chi descobriu a seda quando um casulo de bicho-da-seda caiu de uma amoreira dentro de sua xícara de chá. Depois de experimentar algumas vezes, ela, finalmente, conseguiu tecer o filamento da seda em um pedaço de tecido.

A seda era considerada a mais valiosa mercadoria da China e gerou a famosa rota da Seda, a mais importante rota comercial da época. A manufatura da seda era um segredo de estado, muito bem guardado até o ano 300, quando se tornou conhecida na Índia. Ou seja: 3.000 anos após sua descoberta pelos chineses. Existem muitas lendas e mitos que contam o surgimento da seda, mas foi na China que tudo começou.

Na cultura chinesa, a Imperatriz Hsi Ling Shi (também chamada Lei Zu, esposa do imperador amarelo, Huang Di), é venerada como “a deusa da seda” por ter inventado o tear e tê-lo utilizado na produção de tecidos de seda.

Testemunhos arqueológicos da época Shang (século XVI ao século XI antes de Cristo) mostram que a sericicultura – cultura do bicho-da-seda, já se encontrava em estágio muito avançado. Concretamente há evidências da existência de um ideograma para seda, em língua chinesa, em torno do ano 2.640 antes de Cristo. Por muitos séculos apenas a China produzia a seda. Ninguém mais sabia como fabricá-la e qualquer pessoa naquele país que revelasse o segredo do bicho-da-seda era executada como traidora. Portanto, não surpreende saber que o monopólio chinês na fabricação de seda a tenha tornado caríssima.

Durante a dinastia Han (entre 206 antes de Cristo, a 24 depois de Cristo), a seda chinesa já era famosa em todo o mundo devido ao intenso tráfego comercial entre a China e Europa. Em todo o Império Romano a seda valia seu peso em ouro. No século III antes de Cristo, as exportações chinesas tiveram início pela “Rota da Seda”: levando e trazendo para o ocidente a seda, ouro, prata e retornando com lãs para o Oriente.


A Rota da Seda tinha cerca de quatro mil quilômetros e se estendia do leste da China ao Mar Mediterrâneo. Usado por caravanas, o caminho seguia da Grande Muralha da China para o noroeste, contornando o deserto de Takla Makan, subindo a cordilheira Pamir, atravessando o Afeganistão moderno e passando pelo Levante, um mercado comercial importante em Damasco, atual Síria. De lá, as mercadorias eram enviadas através do mar Mediterrâneo. Poucas pessoas viajaram todo o percurso. As mercadorias eram manipuladas principalmente por uma série de intermediários. 

Os chineses mantiveram o monopólio sobre a produção mundial de seda até cerca de 200 antes de Cristo, quando a Coreia viu o surgimento de sua própria indústria graças a um punhado de imigrantes chineses que haviam se estabelecido lá. Aproximadamente no ano 300 depois de Cristo, a sericicultura se espalhou para a Índia, o Japão e a Pérsia, com a seda se tornando parte da história dessas culturas.

O segredo da fabricação da seda chegou à Europa apenas em 550 depois de Cristo através do Império Bizantino. Segundo uma lenda, monges que trabalhavam para o imperador Justiniano contrabandearam ovos do bicho-da-seda para Constantinopla em gomos de bambu oco. Os bizantinos mantiveram o segredo tanto quanto os chineses, e por muitos séculos a tecelagem e comercialização de tecidos de seda era um monopólio estritamente do império.

No século VII, os árabes conquistaram a Pérsia, capturando suas magníficas sedas. Desta forma, a sericicultura e a tecelagem da seda espalharam-se pela África, Sicília e Espanha. A Andaluzia foi o principal centro europeu de produção de seda no século X. Houve também produção do tecido pelos mercadores de Veneza. Já no século XIV, as cidades italianas de Gênova, Florença e Lucca, ficaram famosas pelas suas tecelagens de seda. A França, a partir da segunda metade do século XV, começou a estimular a indústria local fazendo com que Lyon se tornasse um dos maiores centros mundiais de tecelagem de seda, posição mantida até hoje.

Bicho-da-seda é a larva de uma espécie de mariposa (Bombyx mori) usada na produção de fios de seda. Este inseto é nativo do Norte da China, mas encontra-se atualmente distribuído por todo o mundo em quintas de produção de seda, denominada sericicultura.

O bicho-da-seda alimenta-se exclusivamente de folhas de Amoreira, ao longo de toda a sua fase de vida larvar (lagarta). Ao fim de um período de pouco mais de um mês, a lagarta torna-se amarelada e começa a segregar um fio que usa para formar o casulo onde se dará a metamorfose para o estado adulto (imago). É esse casulo que serve de fonte para a seda. 

Estas mariposas que produzem a seda (Bombyx mori) foram domesticadas a cerca de 3.000 anos antes de Cristo, nos países asiáticos (possivelmente na China), e por isso não conseguem sobreviver no ambiente natural. Vivem apenas criadas pelo homem de quem dependem para serem alimentadas e não conseguem voar.

É como dizer que suas asas atrofiaram nestes séculos de domesticação. Existem mais de 400 espécies desta raça e hoje inúmeros cientistas trabalham na preservação do banco de germoplasma para, através de cruzamentos específicos, buscarem melhores híbridos para produção de seda, possibilitando, assim, melhores resultados na cadeia produtiva, desde o sericicultor até a indústria têxtil.

A Rota da Seda  era uma série de rotas interligadas através da Ásia do Sul, usadas no comércio da seda entre o Oriente e a Europa. Eram transpostas por caravanas e embarcações oceânicas que ligavam comercialmente o Extremo Oriente e a Europa, provavelmente estabelecidas a partir do oitavo milênio antes de Cristo - os antigos povos do Saara possuíam animais domésticos provenientes da Ásia - e foram fundamentais para as trocas entre estes continentes até à descoberta do caminho marítimo para a Índia. Conectava Chang'an (atual Xi'an) na República Popular da China até Antioquia na Ásia Menor, assim como a outros locais. Sua influência expandiu-se até a Coreia e o Japão. Formava a maior rede comercial do Mundo Antigo.

Estas rotas não só foram significativas para o desenvolvimento e florescimento de grandes civilizações, como o Egito Antigo, a Mesopotâmia, a China, a Pérsia, a Índia e até Roma, mas também ajudaram a fundamentar o início do mundo moderno. Rota da seda é uma tradução do alemão Seidenstrabe, primeira denominação do caminho feita pelo geógrafo alemão Ferdinand von Richthofen no século XIX.

A rota da seda continental divide-se em rotas do norte e do sul, devido à presença de centros comerciais no norte e no sul da China. A rota norte atravessa o Leste Europeu (os mercadores criaram algumas cidades na Bulgária), a península da Crimeia, o mar Negro, o mar de Mármara, chegando aos Balcãs e por fim, a Veneza; a rota sul percorre o Turquemenistão, a Mesopotâmia e a Anatólia. Chegando a este ponto, divide-se em rotas que levam à Antioquia (na Anatólia meridional, banhada pelo Mediterrâneo) ou ao Egito e ao Norte da África. A última estrada de ferro conectada à rota da seda contemporânea foi completada em 1992, quando a via Almaty-Urumqi foi aberta. A rota da seda marítima estende-se da China meridional (atualmente Filipinas, Brunei, Sião e Malaca) até destinos como o Ceilão, Índia, Pérsia, Egito, Itália, Portugal e até a Suécia. Em 7 de agosto de 2005, foi confirmado que o Departamento do Patrimônio Histórico de Hong Kong pretende propor a Rota da Seda Marítima como Patrimônio da Humanidade.

Muitas caravanas já seguiram essa rota antiga desde 200 a.C. No passado remoto, os chineses aprenderam a fabricar seda a partir da fibra branca dos casulos dos bichos-da-seda. Só os chineses sabiam como fabricá-la e mantinham esse segredo muito bem guardado. Quando eles fizeram contato com as cidades do Ocidente, encontraram pessoas dispostas a pagar muito caro  pela seda. Os dois lados da rota aprenderam muito sobre culturas diferentes das suas, e isso expandiu suas ideias sobre o mundo.

O viajante veneziano Marco Polo percorreu a Rota da Seda no século XIII. Quando as técnicas da navegação e da domesticação de bestas de carga foram assimiladas pelo Mundo Antigo, a sua capacidade de transporte de grandes cargas por longas distâncias foi muito melhorada, possibilitando o intercâmbio de culturas e uma maior rapidez no comércio. Por exemplo, a navegação no Egito pré-dinástico só foi estabelecida no século IV antes de Cristo, período em que a domesticação do burro e do dromedário começaram a ser instituídas. A domesticação do camelo bactriano e o uso do cavalo como meio de transporte foram feitas em seguida.

Os povos antigos do Saara já haviam importado animais domesticados da Ásia entre 7500 antes de Cristo e 4000 antes de Cristo. Artefatos datados do 5º milênio antes de Cristo, encontrados em sítios bádaros do Egito pré-dinástico indicam contato com  lugares distantes, como a Síria. Desde o começo do 4º milênio antes de Cristo, egípcios antigos de Maadi importavam cerâmica e conceitos de construção dos Cananeus. Pensa-se que tenham sido usadas rotas que acompanhavam a Estrada Real Persa (construída por volta do ano 500 AC) desde 3.500 AC. Existem evidências de que exploradores do Antigo Egito podem ter aberto e protegido novas ramificações da rota da seda.


No tempo de Heródoto, a Estrada Real Persa percorria 2.857 km da cidade de Susa, no baixo Tigre até o porto de Esmirna (moderna Izmir na Turquia) no mar Egeu. Era mantida e protegida pelo império Aquemeu, e possuía estações postais e estalagens a intervalos regulares. Com cavalos descansados e viajantes prontos a cada estalagem, mensageiros reais podiam carregar mensagens em até nove dias, ao contrário de mensageiros normais que demoravam cerca de três meses. A Estrada Real era conectada a outras rotas. 

Muitas delas, como as rotas indianas e centro-asiáticas, também eram protegidas por Aqueménidas, que mantinha contato regular com a Índia, a Mesopotâmia e o Mediterrâneo. Existem registros em Ester de despachos feitos em Susa para províncias indianas e para o Cush durante o reinado de Xerxes. O primeiro grande passo para a abertura da rota da seda entre leste e oeste veio da expansão de Alexandre o Grande no interior da Ásia Central. Alexandre chegou a Fergana, às fronteiras de Xinjiang (região chinesa, onde ele fundou em 329 antes de Cristo um assentamento grego na cidade de Alexandria Eschate - Alexandria, a distante), e Khujand (agora Leninabad), no Tadjiquistão.

Quando os sucessores de Alexandre, o Grande (os Ptolomeus), assumiram o controle do Egito, em 323 antes de Cristo, começaram a estimular o comércio (com a Mesopotâmia, a Índia e o leste da África) por intermédio dos seus portos no Mar Vermelho e de rotas terrestres. Isto era supervisionado por uma ativa  participação de intermediários, especialmente os nabateus e outros árabes. 

Os gregos permaneceram na Ásia Central por mais três séculos, primeiramente através da administração do Império Selêucida e mais tarde estabelecendo o reino Greco-Bactriano na Báctria. Eles continuaram a expandir-se em direção ao oriente, especialmente durante o reino de Eutímides, que expandiu o seu controle à Sogdiana, atingindo e superando a cidade de Alexandria Eschate. 

Existem indicações que teriam liderado expedições longas, como a Kashgar, no Turquestão Chinês. Também devem ter iniciado as primeiras relações entre China e o oeste por volta de 200 antes de Cristo. O historiador grego  Estrabão escreve que "eles estenderam o seu império a locais como Seres (China) e Phryni".


Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal

2 comentários:

  1. Aprendi mais um pouco sobre o bicho da seda que conheço bem,fisícamente em amoreiras,e é interessante ver seu modo de vida e utilidades.Das histórias e lendas sobre o mesma não conhecia muito.
    Abraços

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  2. Excelente esse trabalho do CEN, muito bem exposto, constituindo uma aula completa sobre a utilidade do produto segregado por esse simpático e operoso bichinho denominado "bômbix", que origina a fabricação da seda, um tipo de fazenda dos mais belos e importantes na indústria do vestuário. Parabéns ao CEN por mais esse ótimo trabalho.
    Humberto-Poeta - vate2006@gmail.com São Paulo,Brasil.

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