A bela e admirável Sintra
(Concelho do Distrito de Lisboa)
Palácio da Pena (Serra de Sintra)
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Formatação de Dermeval Neves
Brasão de Sintra
A Serra de Sintra fica situada no distrito de
Lisboa, e tem de comprimento 10Km e de largura 7 Km, com altura máxima de 529
metros do nível do mar. Grande maciço granítico de formas irregulares. Num dos
seus píncaros fica situada o Castelo dos Mouros e noutro o Palácio da
Pena. Cá em baixo na cidade, fica situado o Paço Real de Sintra, composto de
construções mouriscas, da Idade Média e do Renascimento e também do período
Manuelino. Conquistada aos Mouros em 1147, por D. Afonso Henriques (primeiro
rei de Portugal).
Na Serra foram encontrados vestígios das ocupações
romanas e árabes. Os Romanos quando chegaram a Sintra, chamaram-na de
"Mons Lunae", ou seja, Montes da Lua, porque nessa época a serra era
completamente desprovida de vegetação.
Na Serra de Sintra, existe exuberante combinação de
verdes (600 tons diferentes, que é único no mundo), de maravilhosos jardins,
alamedas, florestas, lagos, nevoeiros, penhascos e precipícios, que coexistem
com edifícios de várias épocas e estilos arquitetônicos, desde os serenos
palácios e mosteiros setencentistas e oitocentistas, às mansões de
características neoárabes e neo-manuelinas. Em linguagem figurada, Portugal tem
sido muitas vezes descrito como uma ilha, tradicionalmente ligado ao mar – Índia,
África, Ásia e Américas – mas o seu isolamento é mais cultural do que
geográfico.
Na longa história das Descobertas Marítimas, nenhuma
outra terra foi tão celebrada em verso e em prosa, como Sintra, principalmente
a sua Serra, testemunho do passado marítimo português: as idas e vindas, a
visão de navios de guerra, a descoberta do Comércio. Gil Vicente descreveu
Sintra em "O Triunfo do Inferno", como uma grande senhora, sonhadora,
romântica, amorosa e desinibida. Mas também outros poetas e escritores
portugueses e estrangeiros a foram descobrindo ao longo do tempo.
Marinheiros perdidos no mar ou regressados à casa –
figuras de "Os Lusíadas" do grande Camões, e da "História Trágico-Marítima"
– falam com saudade do lar e da vista da Cruz Alta, o ponto mais alto da
Serra de Sintra.
Lord Byron descreve-a longamente em cartas à sua
mãe, escritas de Gibraltar em 1809, chamando-lhe "labiríntico jardim
paradisíaco, onde os românticos se tornam mais românticos, os amorosos mais
amorosos e os namorados mais enamorados. Esses jardins seriam dignos de
figurarem no Eden...".
Nas tardes de Verão, quando o nevoeiro nasce do
Atlântico, o Sol paira como um disco alaranjado, sobre a terra sem vento. A
intensidade da luz da cor dá profundidade aos montes alcantilados que se erguem
do Atlântico ao encontro da Serra de Sintra.
Origem
do nome: Segundo a opinião do Dr. José Leite de Vasconcelos:
"... além dos dados colhidos pelo Dr. Gomes de Brito, também mencionarei
que Damião de Góis, o grande escritor clássico da "Crônica de D.
Manuel", diz e repete Sintra e Cintra.
Mas a questão não está resolvida simplesmente pela morfologia histórica da língua: está resolvida pela fonética. Como se sabe, a pronúncia de hoje não é exatamente igual à pronúncia dos séculos XIV, XV e XVI, sobretudo ao valor do "S" inicial, do "S" intervocálico, do grupo "CH", etc. O "S" inicial tinha o valor que ainda hoje tem na Beira e na Espanha, e que se não confunde com o do "C" e de "I"; isto é, se os quinhentistas e os seiscentistas pronunciarem como nós a sílaba "SIN", não escreveriam Sintra, mas sim Cintra. Escrevendo como escreviam: SINTRA, vê-se que davam ao "S" inicial o valor do "S" inicial beirão e castelhano, de acordo com o latim medieval Sintra e Sintria, que não se lia como nós lemos. Também o Dr. Fernando Venâncio da Fonseca, opina: "... de baixa latinidade Sintria, sempre com um "S" até ao século XVll ...". Xavier Fernandes, pensava que a mudança de "S" para "C", talvez se deva à conexão com CYNTHIA, epíteto greco-romano da deusa da Lua, tanto mais que Sintra fica perto do antigo promontório da Lua, e aos Romanos terem chamado à Serra de "MONS LUNAE".
O fato de os Árabes terem transcrito XINTRA, que revela o som palatal do "S" em português arcaico (hoje apenas dialectalmente), igualmente é comprovativo da grafia "S".
Mas a questão não está resolvida simplesmente pela morfologia histórica da língua: está resolvida pela fonética. Como se sabe, a pronúncia de hoje não é exatamente igual à pronúncia dos séculos XIV, XV e XVI, sobretudo ao valor do "S" inicial, do "S" intervocálico, do grupo "CH", etc. O "S" inicial tinha o valor que ainda hoje tem na Beira e na Espanha, e que se não confunde com o do "C" e de "I"; isto é, se os quinhentistas e os seiscentistas pronunciarem como nós a sílaba "SIN", não escreveriam Sintra, mas sim Cintra. Escrevendo como escreviam: SINTRA, vê-se que davam ao "S" inicial o valor do "S" inicial beirão e castelhano, de acordo com o latim medieval Sintra e Sintria, que não se lia como nós lemos. Também o Dr. Fernando Venâncio da Fonseca, opina: "... de baixa latinidade Sintria, sempre com um "S" até ao século XVll ...". Xavier Fernandes, pensava que a mudança de "S" para "C", talvez se deva à conexão com CYNTHIA, epíteto greco-romano da deusa da Lua, tanto mais que Sintra fica perto do antigo promontório da Lua, e aos Romanos terem chamado à Serra de "MONS LUNAE".
O fato de os Árabes terem transcrito XINTRA, que revela o som palatal do "S" em português arcaico (hoje apenas dialectalmente), igualmente é comprovativo da grafia "S".
Algumas
figuras históricas ligadas a Sintra:
Dom Fernando ll: Muito
do que ainda podemos admirar hoje em Sintra, se deve a este rei, que foi casado
com D. Maria IIª. Dom Fernando foi Duque de Saxónia Coburgo Gotha, e foi rei de
Portugal pelo seu casamento com a rainha D. Maria llª, em 1836.
Foi regente do
Reino durante dois anos, em seguida à morte da soberana e enquanto seu filho, Dom
Pedro, (mais tarde Dom Pedro V) não atingiu a maioridade.
Grande amante e protetor
das Artes, a ele se deve a transformação do antigo convento dos Frades Jerônimos,
no hoje Palácio da Pena, assim como a restauração do Castelo dos Mouros e
grande parte da arborização da Serra de Sintra, assim como aos seus jardins e lagos.
Teve um grande amor na sua vida sentimental: a
Condessa de D’ella, nobre alemã que conheceu após a morte da sua primeira
mulher e antes de se casar com D. Maria llª.
A Condessa D’ella, viveu num
palácio perto do Palácio da Pena, e os seus encontros amorosos, davam-se no
chamado Lago Grande, perto da Fonte dos Passarinhos, que tantas tradições tem.
D.
Maria llª: Em 1835, casou com o príncipe Augusto de
Leuchtenberg, que faleceu dois meses depois. No ano seguinte, desposou o
príncipe Dom Fernando de Saxónia Coburgo Goth, de quem teve onze filhos,
custando o nascimento do último, a sua vida.
O reinado de D. Maria llª foi um
período de incessantes lutas civis. Os partidos políticos não compreendiam os
verdadeiros princípios liberais e guerreavam-se com cega violência. As revoltas
militares, que se seguiam quase sem interrupção, mantinham o país em permanente
guerra civil.
Dotada de altas virtudes e de vontade enérgica, D. Maria llª
suscitou ódios políticos, mas foi sempre venerada como esposa e mãe de família,
pelos seus mais ardentes adversários.
SINTRA é uma povoação já muito antiga, cujas origens
se perderam em nebulosas lendas, encontrando-se ligada a um passado cultural a
que escritores e artistas, sobretudo durante o século XlX, deram realce.
Supõe-se que durante a ocupação árabe foi povoação importante, embora poucos
vestígios restem dessa época. Recebeu foral em 1154, dado por Dom Afonso
Henriques. Dom Dinis e os monarcas que lhe sucederam fizeram de Sintra o centro
de veraneio da corte. Aqui nasceu e morreu Dom Afonso V, foi aclamado rei Dom
João ll, deu a sua última audiência Dom Sebastião e esteve cativo Dom Afonso Vl.
Às belezas de Sintra, se referiram nas suas obras poetas nacionais e
estrangeiros, como Camões, Garrett, Eça de Queirós, Lord Byron, William
Beckford, etc.
Monumentos:
Castelo dos Mouros: Ergue-se sobre picos rochosos, coroando a Serra, e
remonta aos séculos Vlll ou lX. Foi reedificado pelos Mouros e ocupado em
1147 por Dom Afonso Henriques. O seu aspecto atual advém-lhe das obras levadas
a efeito no tempo de Dom Fernando II, pois o Castelo ficou praticamente destruído
pelo terremoto de 1755.
PAÇO REAL DE SINTRA (ou PALÁCIO NACONAL DE SINTRA): Este Palácio distingue-se pela variedade das suas edificações, dispostas à volta de pequenos e silenciosos pátios, de ressonância andaluz, e em planos diferentes, conforme s sua implantação no terreno e ainda pelos estilos artísticos que ilustra, é um exemplar único na sua arquitetura civil portuguesa.
Este monumento, rival do
álcacer de Sevilha, provém de um primitivo paço gótico da época de Dom Dinis,
desenvolvido no tempo de D. João I, que aqui decidiu, em 1415, a expedição a
Ceuta e, em 1429, recebeu a embaixada do duque de Borgonha, da qual fazia parte
o pintor Jan van Eyck.
Dom Afonso V promoveu obras no velho edifício, onde
viria a morrer em 1481, sendo logo a seguir aí aclamado D. João II, no Terreiro
do Jogo da Pela. Este rei estanciou mais do que uma vez em Sintra, havendo
nomeado vários mestres para as obras do Paço.
A grande e documentada atividade
de renovação teve lugar no reinado de D. Manuel I, entre 1505 e 1520, ao ser
acrescentada a ala oriental, obra típica da arte manuelina, com as suas janelas
geminadas e de pujantes elementos decorativos gótico-naturalista, a que se
seguiram as arcadas das belas galerias abertas em dois andares, e ao ser
erguida, a poente, o imponente cúbito da Sala dos Brasões, com o telhado
piramidal e um largo e original friso alveolado sob a cornija, cujo lavor é do
mais típico mudegarismo.
Este palácio tem o maior repositório de azulejos
antigos existentes no País, sendo alguns deles peças únicas, como os que,
engrafitados a negro, emolduram a porta gótica da Sala das Sereias, ou da Galé,
todos notáveis pela sua policromia e integração decorativa; os da Salas dos
Cisnes e das Pegas, onde brilha o raro azul-de fez, e os da chamada Sala dos
Árabes, com os seus vistosos lambris de azulejos sevilhanos verdes, azuis e
brancos, e outros no friso do alizar, de fabrico nacional, também manuelinos,
com flores-de-lis e macarocas em relevo.
Nesta sala, primitivo pavilhão central, conforme o
desenho quinhentista de Duarte de Armas, que também documenta a existência das
monumentais chaminés da cozinha gótica, o chão é revestido de ladrilhos e
pequenos embutidos, admirando-se ao centro uma fonte – taça de mármore,
rematada por um repuxo, exótica composição metálica com tritões e cavalos.
O mesmo valioso tipo de pavimento de ladrilhos
encontra-se também na Sala de Dom Afonso VI e na capela gótica, a qual é
enriquecida pelo original teto de lacarias medéjares, de dois tramos, o mais
antigo com as armas reais, provavelmente de Dom Afonso VI, e o posterior já
estilo manuelino.
Esplêndido conjunto este da capela, sem par no País,
que a torna só por si um verdadeiro tesouro artístico, um monumento dentro de
um monumento, onde ainda se encontram vestígios da primitiva pintura gótica,
representando uma pomba, o que permitiu a restauração da decoração mural.
O
recheio do Palácio é constituído por mobiliário antigo, tapeçarias, pinturas e,
junto da tribuna da capela, uma escultura de Santa Ana e a Virgem, da Escola
Alemã. Algumas Salas que se encontram neste Palácio:
SALA
DO CATIVEIRO: Onde Dom Afonso VI esteve cativo,
depois de ter sido destronado por sua mulher (D. Maria Francisca) e por seu
irmão Dom Pedro VI.
( Sala dos Brasões )
SALA
DOS BRASÕES: O teto desta sala, de cúpula apainelada
de espetacular efeito, exibe pintadas as armas reais e dos seus infantes, bem
como, nas ordens inferiores, as da nobreza da época manuelina. É suntuosa a
decoração das molduras dos caixotões e dos motivos vegetalistas que rodeiam as
armas reais. Elegantes corças preenchem alguns dos caixotões. A ornamentação da
magnificente Sala dos Brasões foi completada com o forro das paredes por
azulejos barrocos figurando caçadas.
SALA
DOS CISNES: No interior do Palácio admiram-se artísticos
tetos, nomeadamente o da espaçosa e clara Sala dos Cisnes, de masseira, de
inspiração mudéjar, decorado com pinturas de cisnes dentro de caixotões octogonais
de molduras douradas.
( Sala das Pegas )
SALA
DAS PEGAS: Além da figuração destas aves, ostenta, pintado o
mote "Por Bem", de Dom João I. Ornamentam estas salas preciosas
azulejos mouriscos. O seu recheio é constituído por móveis antigos, como os
contadores hispano-árabes da Sala das Pegas, por algumas pinturas e tapeçarias
de valor. Apesar de modificadas em épocas sucessivas, conservam o antigo
esplendor.
Afonso
Vl: Ainda muito criança foi atacado por uma grave
doença, que o deixou fraco para sempre, tanto de corpo como de espírito. Quando
faleceu seu pai, tinha apenas treze anos e até à sua maioridade exerceu a
regência sua mãe, a rainha D. Luísa de Gusmão.
Já durante este período se manifestaram as taras
físicas e morais do príncipe, que só escolhia a convivência de aventureiros
devassos e de indivíduos da mais baixa condição, entregando-se com eles a
correrias pelas ruas de Lisboa, armando escândalos e desordens, de que não raro
saía maltratado. Quando Dom Afonso completou dezoito anos, como a rainha
hesitasse em lhe confiar o governo do Reino, o príncipe, a instigações do conde
de Castelo Melhor, retirou a regência a sua mãe e assumiu o poder, tomando para
seu ministro o conde de Castelo Melhor, que se revelou um estadista eminente.
Em 1666, casou o soberano com Maria Francisca Isabel
de Sabóia, Duquesa de Nemours. Foi uma união desastrosa. A rainha logo de apaixonou
por seu cunhado, Dom Pedro e não tardou a desprezar e a detestar o homem a quem
se ligara. Estabeleceu-se entre ela e o conde de Castelo Melhor, uma forte
rivalidade política, de que resultaram complicadas intrigas na Corte,
principalmente pelo romance que ela mantinha com o cunhado. O infante Dom Pedro
tomou então partido da sua cunhada rainha, criando-se entre eles uma relação
amorosa bem visível aos olhos de todos. Dom Pedro, que também detestava o conde
de Castelo Melhor, manobrou por forma a tirar ao seu irmão e seu rei, o único
homem que o podia amparar no trono. Privado do conde, Dom Afonso estava perdido...
A rainha, pretextando que o casamento não se
consumara, escreveu uma carta que ainda hoje é considerada muito erótica, ao
parlamento, e retirou-se para um convento. Seguiu-se um processo de divórcio,
que é uma das mais vergonhosas páginas da nossa história.
Os acontecimentos precipitaram-se e Dom Afonso foi
dominado pelo infante, não lhe opondo qualquer resistência. As Cortes
convocadas em 1668 depuseram o rei, entregando a regência a seu irmão. De Roma
veio a anulação do casamento e a dispensa para que os dois cunhados pudessem
casar, o que ainda fizeram nesse mesmo ano.
Dom Afonso foi então exilado para a Ilha Terceira
(Açores) e encarcerado no castelo de São João Batista. Quatro anos depois, em
seguida a uma conspiração em seu favor e que se malogrou, foi Dom Afonso
transferido para o Paço Real de Sintra, onde faleceu subitamente (e
misteriosamente) em 1683.
D.
Maria Francisca Isabel de Sabóia: Duquesa de Nemours e d`Aumal,
nasceu em Paris em 1646. Segunda filha dos duques de Nemours. Casou em 1666 com
Dom Pedro VI e logo se ingeriu na política portuguesa, manifestando-se logo
hostil ao conde de Castelo Melhor, que já tinha por adversário o infante Dom
Pedro, seu irmão. Entre a rainha e seu cunhado, estabeleceram-se relações
amorosas, que fizeram escândalo na Corte.
Conseguiram os dois amantes obrigar o conde de
Castelo Melhor a demitir-se e logo tramaram tirar a coroa a Dom Afonso VI. A
rainha retirou-se para o Convento de Madre de Deus, pretextando que o marido
nem sequer o casamento conseguira consumar. Dom Pedro apoderou-se da regência e
em seguida a um processo vergonhoso de que resultou a anulação do casamento com
Dom Afonso VI, desposou a sua cunhada em 1668. Deste segundo enlace, teve D.
Maria Francisca uma filha, a princesa D. Isabel, que faleceu com 23 anos. Nota: Dom Pedro II, casou em
segundas núpcias com D. Maria Sofia de Neuburgo e desta união nasceu Dom João
V.
( Palácio Nacional da Pena )
Palácio
Nacional da Pena: Em plena Serra de Sintra, formando com
a Natureza um conjunto espetacular, ergue-se o Palácio da Pena.
Construído no século XlX sobre as ruínas de um
antigo convento, este núcleo de arquitetura civil revela uma concepção
romântica, pelas características estilísticas e cuidado de integração no
ambiente, com bom sentido de cenografia paisagística. O primitivo Mosteiro de
Frades Jerónimos fora mandado construir por Dom Manuel I, em 1511.
No século XVIII estava semiarruinado, devido ao terremoto
de 1755. Em 1838, Dom Fernando II, soberano profundamente culto e sensível às
correntes estéticas do romantismo, adquiriu as ruínas, envolvidas por uma
ambiência poética tão ao gosto da época, com a finalidade de as transformar em
residência de Verão, obrigando-se, simultaneamente, a manter a traça primitiva.
Este príncipe, grande conhecedor das artes, interessado no patrimônio nacional,
fomentou igualmente os restauros do Mosteiro da Batalha, do Convento de Cristo
em Tomar e da Torre de Belém, tendo concedido bolsas a alguns artistas e
organizado criteriosamente a sua coleção.
Pretendendo, de início, restaurar o velho mosteiro,
adaptando-o, apenas no essencial, a residência de veraneio, foi dissuadido da
intenção pelo artista a quem entregara a chefia das obras, um engenheiro
militar alemão – barão Von Eschweg – secundado nesta tarefa pelo arquiteto
português, Possidónio da Silva. Nos meados do século XlX predominava uma
tendência eclética, cuja inspiração se alimentava de criações de vários
períodos histórico-artísticos, desde a Antiguidade até à Idade Média. Nesta
perspectiva, Eschweg propusera a organização de um ambiente neogótico, que o
monarca recusou, preferindo uma articulação com as tradições artísticas locais
e com determinadas soluções regionais preferidas nos séculos XV e XVl. Por esse
motivo, empreendeu o barão uma viagem pela Europa, percorrendo a Inglaterra, a
Alemanha (Berlim), França, Espanha (Córdova, Sevilha, Granada), pelo Norte de
África (Argélia).
É neste contexto que o Palácio surge como pioneiro
das concepções arquiteturais românticas em Portugal. A sua planta é de forma
irregular, condicionada pelo núcleo anterior e pela topografia que resulta uma
íntima ligação entre a paisagem e o edifício.
A primeira grande campanha de
obras decorreu até 1849. A edificação originária foi integrada, conservando a
antiga capela e retábulo renascença, notável trabalho de alabastro e mármore
negro com cenas da vida de Nossa Senhora e da Paixão de Cristo, atribuídas a
Nicolau Chantenenne. Os outros sectores sofreram nítida influência do gosto
manuelino do Palácio Nacional.
O aspecto exterior do edifício apresenta um
equilíbrio marcado, verificando-se um ritmo harmonioso na articulação dos
espaços, massas e volumes, criando entre si núcleos dinamizadores do conjunto
arquitetônico.
A construção, com as suas torres, o minarete, o remate das
muralhas e os contrafortes, elementos estruturais provenientes de gramáticas
arquitetônicas do passado, revela extraordinária riqueza quanto à diversidade e
um carácter verdadeiramente assimilador, condicionado por um critério
romântico, com preferência pelo mudéjar, nomeadamente em elementos decorativos.
Alguns núcleos do palácio definem opções estéticas
em revivalismos evidentes. A fachada sul apresenta duas torres oitavadas,
envolvidas de azulejos e encimadas por uma cúpula. Destaca-se ainda uma
construção retangular na qual sobressai a varanda, apoiada em colunas torsas. A
fachada norte está organizada em corpos sólidos e equilibrados.
O Pórtico de
Trião, pelas suas características monumentais e decorativas, assim como a
janela manuelina, aberta numa parede de azulejos, imitando a original do
Convento de Cristo, em Tomar, talvez concebida por Diogo de Castilho, são
elementos que bem refletem o interesse revivalista. No interior, a decoração
tem vistas panorâmicas ímpares em Portugal.
Quinta
da Penha Verde: Dom João de Castro, ao regressar
vitorioso do cerco de Diu, requereu a Dom João lll, como penhor dos seus
serviços, "um rochedo com seis árvores". Tratava-se do monte das Alvíssaras,
na Quinta da Penha Verde, fundada pelo ilustre vice-rei da Índia, que a ela
dedicava "grande afeição". De entre várias capelas espalhadas pela
Quinta, merece especial referência a de Nossa Senhora do Monte, do mais puro
estilo renascentista.
A ermida, de planta circular, foi mandada construir
por Dom João de Castro, em 1542. No interior admiram-se, adossadas à parede,
elegantes colunas com capitéis esculpidos. A cobertura é feita por uma abóbada
semiesférica, rematada por uma cabeça de querubim. Corre a parede da nave um
silhar de azulejo do tipo tapete do século XVll. No altar-mor, ordenado de
azulejos da mesma época, está colocado um retábulo de mármore branco e negro.
CASA
DOS RIBAFRIAS: Belo exemplar da arquitetura civil
renascentista, foi mandada construir no século XVl, por Gaspar Gonçalves,
alcaide-mor de Sintra. No século XVlll foi propriedade do Marquês de Pombal,
que mandou proceder ao seu restauro, conferindo então à fachada o cunho que
ainda hoje apresenta. Num dos capitéis figuram a data de 1534 e o nome do
mestre da obra, o arquiteto Pêro Pexão. Dá acesso ao andar nobre uma escadaria
precedida de um átrio abobadado. No piso superior subsiste uma janela de balcão
com balaústres, formando uma galeria em "L", de cunho renascentista,
e que abriga uma fonte.
PALÁCIO
DE SETEAIS: Magnífico exemplar de mansão nobre do século
XVlll, foi mandado edificar por Gildemeeter, cônsul da Holanda.
Aqui, o célebre viajante inglês William Beckford
assistiu suntuosas festas, quando o palácio era já propriedade do Marquês de
Marialva. Neste palácio estiveram também D. Maria lª e, em 1802 o príncipe
regente Dom João e D. Carlota Joaquina, cujas esfinges encontram-se à estrada
do palácio. Os dois corpos laterais, encimados por platibandas em estilo
neoclássico, foram ligadas por um arca triunfal, em comemoração desta visita.
CAPUCHOS
(Convento de Santa Cruz dos Capuchos): Este Convento fica
situado num maravilhoso cenário da Natureza, difícil de descrever, mas que
teria decerto lugar nos jardins do Éden. Foi mandado construir em 1560, por Dom
Álvaro de Castro em seguimento de um voto de seu pai, o grande vice-rei da
Índia, Dom João de Castro.
Diz a tradição que ali viveu um frade de nome
Honório, que, durante mais de trinta anos só se alimentou de ervas. A extrema
pobreza destes frades era tal que criou nas gentes de Sintra um sentimento de
piedade, e assim muitas pessoas iam até ao terreiro de entrada do Convento
levar-lhes alimentos.
Os frades viviam em celas muito pequenas, forradas
a cortiça, assim como seus pobres leitos. No refeitório encontra-se uma enorme
lage de pedra que servia de mesa.
OUTROS
MONUMENTOS:
Igreja de São Pedro
Capela de São Lázaro
Capela Nossa Senhora da Piedade
Fonte dos Passarinhos
Palácio da Condessa
Cruz Alta
Igreja de São Pedro
Capela de São Lázaro
Capela Nossa Senhora da Piedade
Fonte dos Passarinhos
Palácio da Condessa
Cruz Alta
A origem de Sintra confunde-se com a da própria Nação portuguesa. A serra
e a planície foram habitadas desde antiquíssimos tempos, como atestam os
dólmens e as necrópoles existentes e os preciosos instrumentos
pré-históricos guardados no Museu Municipal.
Dos romanos, restam numerosas lápides
e urnas funerárias, que se conservam, junto
do mausoléu circular, no Museu Arqueológico de
Odrinhas. Os romanos chamavam a serra de Sintra de "Mons
Lunae" (Montanhas da Lua).
Dos tempos hispano-árabes, o monumento mais antigo é o Castelo
dos Mouros, construído na serra, a 450 metros de altitude, entre os
séculos VII e IX.
O castelo foi tomado aos mouros em 1147, pelo primeiro Rei de
Portugal, Dom Afonso Henriques. Mas é na vila, a 207 metros
de altitude, que se encontra o monumento mais característico, o
Palácio Nacional da Vila.
Na serra, mais alto que o castelo dos
mouros, ergue-se o Palácio da Pena, edificado entre 1840 e 1850 pelo rei
Dom Fernando II, no estilo pseudomedieval.
De entre os outros palácios há que salientar o de Seteais
(séc. XVIII), onde atualmente está instalado um luxuoso hotel, e o
do Ramalhão (séc. XIV, reconstruído no séc. XVIII), e o da Regaleira
(neomanuelino do séc. XIX), os da Penha - Verde, da Piedade e
do Vinagre, nos arredores de Colares.
Ao longo dos séculos, Sintra foi enaltecida por
famosos escritores, entre os quais é justo
destacar Lord Byron, o primeiro e genial turista, cujos versos
entusiásticos atraíram a este "glorious eden" numerosos gravadores e
pintores que depois espalharam os encantos de Sintra pelo mundo.
Entre Sintra e Lisboa, deve ainda ser visitado o
belíssimo Palácio de Queluz (séc. XVIII), construído no estilo de
Versalhes: antiga residência real, cuja velha cozinha foi transformada em
restaurante de luxo.
Quinta da
Regaleira (Sintra): A documentação
histórica relativa à Quinta da Regaleira é escassa para os tempos anteriores à
sua compra por Carvalho Monteiro (conhecido pelo Monteiro dos Milhões). Sabe-se
que, em 1697, José Leite era o proprietário de uma vasta propriedade nos
arredores da vila de Sintra, que hoje integra a Quinta.
Francisco Alberto Guimarães de Castro comprou a
propriedade (conhecida como Quinta da Torre ou do Castro em 1715), em hasta
pública, canalizou a água da serra a fim de alimentar uma fonte ai existente.
Em 1830, na posse de Manuel Bernardo, a Quinta em
toma a designação que atualmente possui. Em 1840, a Quinta da Regaleira é
adquirida pela filha de uma negociante do Porto, Allen, que mais tarde foi
agraciada com o título de Baronesa da Regaleira. Data deste período a
construção de uma casa de campo que é visível em algumas representações iconográficas
de finais do século XIX.
A história da Regaleira atual principia em 1892, ano
em que os barões da Regaleira vendem a propriedade ao Dr. António Augusto
Carvalho Monteiro por 25 contos de réis. A maior parte da construção atual da
quinta estava terminada em 1910.
A quinta foi vendida a Waldemar D'Orey em 1942, que,
sem ter desvirtuado o que tinha sido concebido, procedeu a pequenas obras de
modo a acolher a sua grande família e profundas obras de restauro, já que a casa
não era cuidada à muito. Em 1987 a Quinta da Regaleira é adquirida pela empresa
japonesa Aoki Corporation, e deixa de servir como habitação sendo entregue ao
cuidado de caseiros e permanece fechada ao público.
Em 1997, a Câmara Municipal de Sintra adquire este
valioso património, iniciando pouco depois um exaustivo trabalho de recuperação
do patrimônio edificado e dos jardins.
Atualmente a Quinta da Regaleira está aberta ao
público e é anfitriã de diversas atividades culturais. É um dos lugares mais místicos
de Portugal.
Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
Eh lá! O castelo dos Mouros está muito desenvolvido... Nunca foram a Sintra, pois não?
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