Praça do Império e
Mosteiro dos Jerônimos
Lisboa
– (Capital de Portugal e Sede de Concelho do Distrito de Lisboa)
Origem
do nome:
«Do,
Domingo Ilustrado – 1898»: “Como acontece a quase todas as cidades de origem
antiquíssima, a história da fundação de Lisboa e dos seus primeiros tempos anda
envolta em mil fábulas. Umas dão-lhe por fundador Ulisses, o célebre capitão
grego, dizendo que do seu nome veio à cidade o de Ulissipo, depois corrupto em
Olisipo. Outros contam que a fundou um companheiro do deus Baco, chamado luso,
e que daqui tirou o País a denominação de Lusitânia, e os habitantes a de
lusos. Outras, ainda, atribuem a sua origem a um bisneto de Noé”.
«Xavier
Fernandes em Topônimos e Gentílicos (1944)»: “Qual o verdadeiro étimo do nome
da primeira cidade portuguesa? Como acontece com tantos topônimos, parece não
ser muito fácil determiná-lo com precisão.
Ainda
bem modernamente, o jornalista e escritor belga, Désiré Denuit, no seu livro de
1939 “La route des caravelles”, escreveu um período que corresponde na nossa
língua ao seguinte: “A lenda atribui a fundação de Lisboa a Ulisses, o mais
finório dos gregos; parece que o seu nome provém de Alis Ubbo, a Baía
Deliciosa”.
Não sabemos onde Denuit encontrou ou arranjou este étimo. Julgamos,
porém, que apenas a título de curiosidade pode merecer registro.
Houve
quem dissesse que o vocábulo Lisboa é transformação de Ulissipolis, à letra,
cidade de Ulisses, nome do seu lendário fundador.
J.
Cornu (Die Portugiesische Sprache pág. 104, diz que a origem é a
forma Alisbona, não documentada, tendo o “l” influído para a troca do “o” ou
“u” primitivos, o que não parece verdade, pois em 1165 havia ainda a forma
Olixbona, como provou A. A. Cortesão, no seu Onomástico Medieval.
Leite
de Vasconcelos apresenta deste modo a evolução do vocábulo: Olisipo,
Olissipona, Lisbona (Lixboa), e Lisboa, o que é aceitável sob todos os
aspectos, incluindo o das leis filológicas da derivação.
Diz-se
que Olisipo (latinizado em Olisippo e em Ulyssippo) é nome de origem fenícia,
ao qual se atribui a significação de “baía formosa” ou “baía amena”.
Lisboa
foi a Felicitas Julia dos romanos, em homenagem a Caio Júlio César, nos meados
do último século antes de Cristo”.
«Prof.
Vasco Botelho de Amaral em “O Povo e a Língua, do Mensageiro das Casas do Povo
– 1949”»: “Muitos têm sido os investigadores que tentam perscrutar esse
mistério que rodeia o nome da capital portuguesa. Numerosas foram e continuam a
ser as hipóteses, mais ou menos engenhosas formuladas para a etimologia de
Lisboa.
Em
1947 apresentei eu uma solução do grande problema. Publiquei a minha conjectura
no número da Revista Municipal (publicação da Câmara Municipal de Lisboa),
comemorativa do Vlll centenário. A minha solução foi, em resumo, esta:
1º)
– A origem remota de Lisboa seria nome fenício (citado por Brochard) Alis Urbo
(baía amena ou deliciosa). Admiti que nesta região de Lisboa os fenícios
houvessem estabelecido uma feitoria com esse nome.
2º)
– O latim Olisippo seria adaptação latina do nome fenício.
3º)
– A relação lendária com o nome de Ulysses seria a razão de ser da variante
Ulyssipona.
Por
outras palavras: entre Alis Ubbo fenícia e Olisippo latina deve,
filologicamente, admitir-se uma possível relação. E o haver surgido a forma
Ulyssipona (forma geradora de Lisboa) explicar-se-á por artes da lenda da
fundação de Lisboa por Ulisses. Em
esquema, a minha tese é esta:
Fenício
Alis Ubbo (latim Ulisippo – latim Ulyssipona – por influência de Ulysses) > Lisboa. Isto
o que na essência, apresentei em 1947 na Revista da Câmara Municipal de Lisboa.
Depois disso, e para desenvolver, defender e reforçar a minha opinião, escrevi
outros artigos para os quais remeto os interessados neste problema. (Esta
palavra Lisboa, no Diário da Manhã de 4-4-1949); Descobrir-se a origem de
Lisboa (no Diário Popular de 27-4-1949), A origem de Lisboa, no mesmo Diário de
20-7-1949.
Creio,
porém, sinceramente, na hipótese por mim formulada na Revista Municipal, Lisboa
veio do nome fenício Alis Ubbo, que os latinos tranformaram em Olisippo, forma
relacionada com a lenda de Ulysses, deu Ulyssipona, e esta, por natural
evolução, deu a linda palavra que nomeia a princesa do Tejo” Lisboa na noite de
Santo António, (12 para 13 de Junho) vem para a rua para o desfile das Marchas
Populares dos Bairros de Lisboa.
Tradicionalmente, este desfile dá-se na Avª da
Liberdade, entre o Marquês de Pombal e os Restauradores – mil metros.
Sensivelmente ao meio da Avª da Liberdade, por alturas da estátua aos
Combatentes da Grande Guerra, às portas do Parque Mayer, e em frente à tribuna
principal, todas as Marchas fazem as suas evoluções em cantares e em marcações
corográficas.
É Luz!, é Cor!, é Alegria!
Tudo começou em 1932 por iniciativa de Leitão de Barros, então diretor do
“Notícias Ilustrado”, com o apoio de Norberto de Araújo e do “Diário de
Lisboa”, promoveu as primeiras marchas: “percorreram algumas ruas de Lisboa e
entraram no Parque Mayer, onde fizeram demonstrações ao ar livre, e no, e no palco
do Salão capitólio.
Concorreram a princípio 3 bairros (Alto Pina, Bairro Alto e
Campo de Ourique) e ainda deram a sua adesão, outros tantos Alcântara, Alfama e
Madragoa).
Foi muito, para uma quase improvisação. Nesse ano, na marcha de Alcântara,
figurou uma jovem humilde e ignorada, a mesma que, tempos depois, a cantar o
fado, veio a marcar, de forma precisa, nas crônicas nacionais e estrangeiras:
AMÁLIA RODRIGUES “.
Amália Rodrigues
Este trabalho teve apoio de EBAHL – Equipamento dos Bairros Históricos de
Lisboa F. P. SINFONIA DE LISBOA . Música de RAÚL FERRÃO . Versos de NORBERTO DE
ARAÚJO
“Lisboa é sempre / Namoradeira, / Tantos derriços / Que até fazem já fileira.
Não digas sim, / Não me digas não; / Amar é destino, / Cantar é condão
Uma cantiga, / Uma aguarela, / Um cravo aberto / Debruçado da janela /
Debruçado da janela. / Lisboa linda, / Do meu bairro antigo, / Dá-me o teu
bracinho, / Vem bailar comigo
(Estribilho – refrão)
Lisboa nasceu / Pertinho do céu / Toda embalada na fé. / Lavou-se no rio, / Ai, ai, ai, menina / Foi baptizada na Sé.
Já se fez mulher / E hoje o que ela quer / É trovar e dar ao pé. / Anda em
desvario / Ai. Ai. Ai, menina / Mas que linda que ela é!
Ó noite de Santa António! Ó Lisboa de encantar! / De alcachofras a florir / De foguetes a estoirar./ Enquanto os bairros cantarem, / Enquanto houver arraiais, / Enquanto houver Santo António / Lisboa não morre mais.
Toda a cidade flutua / No mar da minha canção / Passeiam na rua / Retalhos da
lua / Que caem do meu balão. / Deixem Lisboa folgar, / Não há mal que me
arrefeça, / A rir, a
cantar,
/ Cabeça no ar, / Eu hoje perco a cabeça.
Castelo de São Jorge - Torre de Belém - Padrão aos
Descobrimentos
Lisboa,
também conhecida como a cidade das sete colinas, está aberta ao rio Tejo e o
seu clima temperado, juntamente com as ricas flora e fauna, ajudaram à rápida
colonização da área.
Mas algo terrível mudaria Lisboa para sempre - o terremoto de 1755. É frequente
ler na história de monumentos e igrejas que os mesmos foram reconstruídos ou
recuperados depois do terramoto de 1755. Este foi o momento mais negro da
história de Lisboa.
Na manhã de 1 de Novembro de 1755 sentiu-se o primeiro tremor e apenas uns
minutos depois sentiu-se o segundo, muito mais violento, que reduziu metade da
cidade a destroços. O terramoto provocou um maremoto que varreu a cidade quase
por completo. Barcos, docas e edifícios foram destruídos pela fúria das águas e
milhares de pessoas foram arrastadas para nunca mais serem vistas.
Como se tudo isto não bastasse, um fogo terrível deflagrou pela cidade, ardendo
durante três dias seguidos e destruindo o pouco que restava de Lisboa. Ao todo,
perderam-se 60.000 vidas só em Lisboa e outros tantos milhares morreram noutras
áreas. O sismo foi sentido por quase toda a Europa e no noroeste de África.
Mas a reconstrução de Lisboa tornou-se uma prioridade e ainda nem tinham
terminado os tremores, já o Marquês de Pombal estava a delinear ideias para
reconstruir a cidade. Ele começou dizendo "Enterrem os mortos e alimentem
os vivos" e, arregaçando as mangas, lançou-se ao trabalho. Devido à sua
determinação e sentido prático, Lisboa ergueu-se rapidamente e melhor do que
nunca.
Praça do Rossio e Baixa Lisboeta
A área situada entre a baixa de Lisboa e a Praça do Marquês de Pombal,
principalmente da Praça do Rossio à Praça do Comércio, ainda hoje mostra o
sistema inovador pensado por Sebastião José de Carvalho e Melo - o próprio
Marquês!
PERÍODO
ROMANO, BÁRBARO E MUÇULMANO
Lisboa nasceu de uma "citânia" localizada a norte do atual castelo
de S. Jorge. Este seria um dos muitos núcleos humanos desenvolvidos no período
pré-histórico. Através da ação povoadora dos romanos (195 a.C.) e inerente
desenvolvimento sócio-econômico, em breve lhe seria atribuída a classificação
de "município", usufruindo do seu equipamento urbano:
monumentos, teatros, termas. Existia um cruzamento de quatro estradas da rede
viária romana: três para Mérida e uma para Bracara (Braga). A sua
característica de "opidum", onde os romanos centram a sua defesa
estratégica, resulta do reflexo do terreno por um lado, e da proteção natural
perante o estuário do Tejo e o braço deste rio que então se desenvolvia a
ocidente e penetrava profundamente no território.
Olisipo (começou assim por se designar a cidade) caracterizava-se pela
existência de um núcleo de população fixa defendida pela soldadesca. Nos
seus arrabaldes foi-se agregando um bom número de famílias cultivadoras da
terra que, em troco de pão, fruta, vinho, legumes e gado, recebiam proteção e
defesa.
A crise do século III que minava e fragilizava a sociedade romana tem os
seus reflexos em toda a Península Ibérica. As sucessivas invasões de novos
povos, quer germanos em 500 d.C. (visigodos, suevos), quer árabes em 700 d.C.,
transformam a fisionomia da população. Devido ao clima de insegurança e de
guerra, a cidade adquire uma feição muito peculiar: fortaleza onde se refugiam
os habitantes fugidos do avanço dos exércitos cristãos. É uma população de
ricos proprietários agrícolas e comerciantes, que se transferem para o interior
das muralhas e constroem uma cidade opulentíssima pelo trato e mercancia
dos portos de África e Ásia.
No período da Reconquista Cristã, a Lisboa muçulmana é uma cidade cobiçada e
várias vezes atacada e ocupada pelos exércitos cristãos (ocupação por Castela
em 1000 d.C.).
Lisboa era então o mais opulento centro comercial de toda a África e de uma
grande parte da Europa. É abundante de todas as mercadorias; tem ouro e
prata. Não faltam ferreiros. Nada há nela inculto ou estéril; antes, os
seus campos são bons para toda a cultura...Os seus ares são saudáveis, e há na
cidade banhos quentes. ... O alto do monte é cingido por uma muralha circular,
e os muros da cidade descem pela encosta, à direita e à esquerda, até à margem
do Tejo.
PRIMEIRA DINASTIA
Em 1147, D. Afonso Henriques, 1º Rei de Portugal, conquista a cidade. Com
a participação cristã, dá-se a expansão de Lisboa para além
das suas muralhas. Herdados do passado existiram dois arrabaldes - a Baixa e
Alfama. O braço do rio desaparece definitivamente no séc.XIII .
D. Fernando, então Rei de Portugal, perante as ameaças de Castela
(Espanha), cria uma nova muralha de defesa designada por "Cerca
Nova"(1373-75).
Dos 16 Ha do período mourisco a nova cidade passa para 101,65 Ha ou seja 6,5
vezes maior. A fixação definitiva da capital do reino, e portanto da corte,
dá-se no reinado de Afonso III.
Lisboa é então o núcleo de um importante sistema económico de trocas,
localizando-se as pequenas propriedades em que predomina a cultura hortícula,
na proximidade imediata, facto que poderá ter influenciado a localização dos
dois mercados centrais de hortaliças: Praça da Figueira e Praça da Ribeira .
SEGUNDA E TERCEIRA DINASTIA
D. João I, Rei de Portugal, cria a primeira urbanização na colina do Carmo
(1400). Pretendia assim dar satisfação às necessidades de uma população sempre
crescente, expropriando para tal os campos.
A corte de D. Manuel I abandona o castelo e fixa o Paço Real no Terreiro do
Paço, onde se centrou toda a vida comercial da cidade (1500).
Nesta altura surge no Bairro Alto o primeiro loteamento (renascentista) que
transforma hortas e pomares em ruas e casario, crescendo repentinamente como
bairro popular, embora posteriormente se transformasse numa zona onde a aristocracia
viria a construir os seus palacetes.
O Bairro Alto marca a passagem do séc. XVI para XVII na vida urbana de Lisboa e
a aquisição de uma consciência urbanística e arquitetônica.
DEPOIS DO TERREMOTO DE 1755
1755 marca para Lisboa a data de um período de desenvolvimento. O terremoto (no
dia 1 de Novembro, Dia de Todos os Santos, às 10h00), e o incêndio que se lhe
seguiu, devastaram dois terços da totalidade dos arruamentos e terão destruído
três mil casas das vinte mil existentes.
O terremoto abrangeu toda a zona da Baixa, os bairros do Castelo e a zona do
Carmo, ou seja, as zonas mais intensamente urbanas da cidade.
Em sua substituição iria nascer a Lisboa Pombalina, com um urbanismo sujeito a
regras fixas e de um cientismo pragmático que provoca admiração em todo o
mundo.
O seu principal impulsionador foi Marquês de Pombal, o Primeiro
Ministro do Rei D. José, coadjuvado pelos arquitetos e engenheiros, Manuel da
Maia, Eugénio dos Santos e Carlos Mardel (1755-76).
O plano, sem dúvida inovador, baseia-se numa direção planificada de ruas
alinhadas, cujas opções arquitetônicas assentam em regulamentos de
construção, tendo em atenção conceitos básicos de resistência às ações
sísmicas.
O sistema urbanístico obedecia a traçados de eixos de composição em que a
simetria era tema obrigatório, pretendendo-se usualmente destacar nos extremos,
monumentos ou estátuas: a Rua Augusta com o arco triunfal, através do
qual, no seu eixo, se colocou a estátua de D. José.
Pombal criou incentivos de interesse à nova classe da burguesia comercial.
A norte do Rossio é aberto o "Passeio Público"(1764), zona de
recreio da burguesia. Era um jardim gradeado, com cascatas, lagos com repuxos e
coreto, que posteriormente foi aberto às novas avenidas e aos futuros
bairros construídos por uma burguesia em ascensão.
A partir de 1780 aparece a iluminação pública da cidade e em 1801 as ruas
passam a ter o nome afixado.
EVOLUÇÃO POST-POMBALINA
Após a vitória do Liberalismo e desde o termo da administração pombalina
a grandiosidade arquitetônica acompanha os edifícios públicos: Basílica da
Estrela, Ópera de São Carlos, Palácio da Ajuda. Os limites da cidade são então
sucessivamente alargados sempre em "círculos" com centro na zona da
Baixa. O traçado das ruas obedecia a critérios resultantes da procura de
habitação.
A construção do Teatro Nacional D. Maria II ( 1843-46), do Arquiteto. F. Lodi, em
pleno Rossio Pombalino, com características neo clássicas, é uma ruptura com o
período anterior.
Surge um novo espírito de renovação e novos ideais estéticos.
Aparecem jardins novos: S. Pedro de Alcântara, Estrela, Príncipe Real, bem como
a plantação de árvores no Rossio. Surge assim uma visão naturalista.
O
"Passeio Público" gera uma avenida e o rompimento das
perspectivas de desenvolvimento da cidade de uma forma nuclear radio
concêntrica, é absolutamente inovador.
Um novo eixo de desenvolvimento seguir-se-ia à Avenida da Liberdade. A abertura
da Rua Fontes Pereira de Melo que levou a expansão da cidade desde o Parque da
Liberdade (hoje Eduardo VII) até ao Campo Grande, passando pela Rotunda de
Picoas, Avenida Ressano Garcia (Av. República) e toda a planificação das ruas
adjacentes, paralelas e perpendiculares num desenvolvimento ortogonal.
Era o
plano Frederico Ressano Garcia, engenheiro do município. Nascem as
designadas "Avenidas Novas", que definem o grande desafogo
urbanístico da cidade de hoje.
ÉPOCA MODERNA
Depois da Iª Guerra Mundial, preenchem-se as malhas vazias resultantes dos
traçados dos eixos das novas avenidas. A Avenida da Liberdade apresenta-se
inequivocamente como eixo primordial da nova cidade. Aparecem então edifícios
como o Hotel Palace e o Palácio de Castelo Melhor (Foz).
O estilo Arte Nova
(tardio) revela-se em obras como o Cinema Tivoli do Arquitecto Raul Lino, o
Eden Teatro e o Hotel Vitória do Arquitecto Cassiano Branco. Surgem novos
bairros com imóveis de rendimento, ocupados por uma classe média em expansão. O
equipamento de lazer constitui-se por logradouros ajardinados.
A partir da década de 30 o arquitecto começa a ter uma maior intervenção na construção de edifícios novos. É desta época a abertura da Alameda Dom Afonso Henriques.
É o período Duarte Pacheco, Presidente da Câmara e posteriormente Ministro das
Obras Públicas (1930-43). Constroem-se novos bairros assumidamente
desenhados pelos novos urbanistas de ruas largas e homogeneidade do desenho das
fachadas, (vulgarmente designados de estilo Português Suave).
Sob a orientação de Duarte Pacheco, o Município decide-se pela criação de
um parque verde em Monsanto. Atravessado por uma auto-estrada que liga Lisboa
ao Estádio Nacional é feita a arborização do parque instituindo um sistema
jurídico de expropriação dos terrenos especialmente para esse efeito.
Reconhecia-se então que um plano de urbanização para a cidade teria de envolver
um programa de criação de parques e jardins, não só como fundamento de beleza e
aprezamento dos seus frequentadores, mas também como reserva de ar puro
imprescindível à vida na cidade.
São criados novos bairros (Encarnação e Alvalade) antecessores do aparecimento
e desenvolvimento da urbanização de Olivais e Chelas, numa aplicação dos
princípios preconizados na Carta de Atenas.
Praça do Comércio (ou
Terreiro do Paço); Ponte 25 de Abril; Ponte Vasco da Gama
É
a época dos grandes blocos residenciais livres e separados por zonas verdes,
procurando uma maior exposição solar e melhor arejamento segundo os modelos já
ensaiados noutros países. É também desta época o arranjo ajardinado das praças
que resultam da composição urbanística, com o objectivo de criar zonas de
lazer e jogos infantis.
Mais recentemente aparecem iniciativas municipais de conjunto coabitando com
urbanizações privadas localizadas aqui e ali, que preenchem os espaços
"ainda livres", das zonas limítrofes da Lisboa Cidade.
O
encanto da capital portuguesa reside nas suas fortes ligações ao passado, os
palácios restaurados, as majestosas igrejas e um castelo imponente que
reflectem o rico património cultural da cidade.
A História de Lisboa realiza-se entre uma mistura de acontecimentos e de
lendas.
O poeta português Luís de Camões, atribuiu credibilidade à história na qual
Lisboa fora fundada por Ulisses, mas na realidade foram os Fenícios (200 a.C.)
que estabelecidos no estuário do Tejo ofereceram um porto seguro para as suas
galeotas.
Construíram uma cidade que denominaram Alis Ubbo (porto calmo) e sob seu
controle esta prosperou por mais de seis séculos.
Os Gregos e os Romanos, seguido pelos Visigodos e, por último, os Mouros, foram
os povos que governaram a cidade do rio Tejo, cuja designação alterava
consoante a invasão de novos povos.
Em 1147, o primeiro Rei de Portugal, D. Afonso Henriques, com a participação de
flamengos, normandos, germanos e dos cruzados ingleses, expeliu finalmente os
Mouros que se encontravam na posse de Lisboa desde 714. Lisboa foi pronunciada
capital em 1256.
Portugal prosperou durante os séculos XV e XVI enquanto uma sucessão de
exploradores penetrou nos quatro cantos do globo. Suas descobertas trouxeram
uma grande riqueza a Lisboa através do ouro, dos diamantes, das sedas e das
especiarias.
Em 1908, o assassinato do Rei D. Carlos I na Terreiro do Paço, provocou a queda
do regime monárquico de 767 anos, forçando D. Manuel II a fugir, dois anos mais
tarde, para a Grã-Bretanha.
Lenda de Lisboa –
Gentil Marques
(Do
guião radiofônico (categoria teatro radiofônico) RCP - 1953. Interpretes:
Gentil Marque (narrador); outros interpretes: Álvaro Benamor, Eunice Muñoz, e
outros.
“Lisboa! Velha e nobre Ulisseia dum país tão pequeno e tão grande, simultaneamente!
Das tuas sete colinas fala a história inteira. É sempre que em ti penso,
vêem-me à lembrança os versos heroicos dum poeta quase desconhecido nos dias de
hoje mas que no seu tempo foi muito grande: refiro-me a Gabriel Pereira de
Castro, o autor dum glorioso poema épico, intitulado precisamente “Ulisseia ou
Lisboa Edificada” e começa assim:
As armas e o varão
que mal os seguro
Campos cortou do
Egeu e do Oceano
Que por perigos e
trabalhos duros
Eternizou seu nome
soberano
A Grã Lisboa e seus
primeiros muros
(Da Europa e largo
Império Lusitano
Auta cabeça) se eu
pudesse tanto
A Pátria, ao Mundo,
à Eternidade canto.
Lembra-me, musa, as
cousas e me inspira
Como por tantos
mares o prudente
Grego, vencendo de
Neptuno a ira,
Chegou no Tejo à
túmida corrente;
Ouvirá o som da
lusitana lira
O negro ocaso e
lúcido oriente
Se tu dás ser a meu
sujeito falto
Para que caiba em
mim furor tão alto !
Ora
conta a lenda que em tempos remotos, nada desta cidade de Lisboa existia, a não
ser a sua própria configuração. E toda a costa recebia um nome estranho e
simbólico. Chamava-se Ofiusa – ou seja a terra das serpentes. E as serpentes
tinham também a sua rainha. Uma rainha estranha, meio mulher, meu serpente,
senhora dum olhar feiticeiro, e duma voz quase infantil.
Às
vezes subia ao alto dum monte e gritava ao vento para que pudesse ouvir a sua
própria voz:
-
Este é o meu reino! Só eu governo aqui … Ninguém mais! Nenhum homem se
atreverá a pôr aqui os pés! Ai do que ousar! As minhas serpentes não o
deixarão respirar um minuto, sequer!
Mas
ela, a rainha, enganava-se nos seus pensamentos. De facto, durante muito e
muito tempo, pessoa alguma se aventurou a desembarcar nesta costa amaldiçoada
pelos deuses e pelos homens.
Porém, um dia, vindo de longe, um herói lendário
chamado Ulisses e famoso pelas suas façanhas guerreiras, aproou nesse mesmo
local onde hoje se ergue a nossa cidade de Lisboa. Mal colocou os pés em terra,
ele quedou-se deslumbrado. Seus olhos não se cansavam de abraçar as maravilhas
de que a natureza se mostrava tão pródiga. Reunindo seus homens, ele exclamou
na sua voz potente, habituada ao comando:
Aqui
edificarei a cidade mais bela do Universo! Dar-lhe-ei o meu nome … Será
Ulisseia, capital do Mundo!
Porém,
depressa ele compreendeu que a tarefa não seria fácil. Nada fácil mesmo!
Muitos dos seus homens tombaram envenenados por mordeduras de serpentes …
Outros desapareciam, apanhados por traiçoeiras armadilhas!
E, entretanto, o
inimigo, desconhecido e oculto, ia apertando o seu cerco em redor de Ulisses.
O
jovem guerreiro andava desesperado. Ele não era cobarde. Quase amava o perigo.
Mas um perigo visível, um perigo palpável. Não um morticínio como aquele tão
inglório.
Certa vez em que a triste nova de saber que tombara para sempre um
dos seus melhores amigos e vítima duma morte estranha, Ulisses subiu a um pouco
donde dominava o espaço em frente e gritou a plenos pulmões:
-
Por todos os deuses do Olimpo eu vos desafio, inimigo traiçoeiro e vilão. Estou
habituado às lutas, mas cara a cara, frente a frente, com lutadores que se
prezam e que não se escondem na sombra! Aparecei de uma vez! Quero ver-vos!
Mas
em vão ele chamava! O inimigo continuava ceifando vidas e não aparecia frente
a frente. Apenas os silvos das serpentes – sinfonia de ruídos estranhos que
inundavam a noite – mantinha Ulisses em permanente tensão nervosa.
Inimigo
presente e oculto, simultaneamente, era o problema em que Ulisses se debatia,
na ânsia duma solução. A sua coragem era enorme. Mas a sua valentia
ultrapassava-a. Contudo, o problema continuava insolúvel. Como exterminar
aquilo que se não conhece? Nessa tarde, ainda o Sol caminhava seguro, na linha
do horizonte quando o jovem guerreiro, tomado de súbita raiva, subiu, de novo,
a uma pequena elevação de terreno, gritando:
- Ah! podeis tentar tudo o que quiserdes, inimigo invisível! Mas não abandonarei
esta terra sem aqui deixar a mais famosa cidade edificada até hoje! Ouviste bem
o que eu disse?
Houve
um terrível e profundo silêncio. E de súbito, um rochedo desviou-se e deu lugar
a uma estranha mulher, que tinha qualquer coisa de serpente.
Ulisses
ficou-se a olhá-la surpreendido e escutou a sua voz atraente mas incisiva:
-
E se eu me opuser aos teus desígnios? E se eu te disser, visitante ousado, que
a tua vontade de nada vale dentro dos meus domínios?
O
jovem guerreiro, carregando o sobrolho, perguntou numa surpresa crescente:
-
Mas quem sois vós, senhora? Por esta luz que ilumina os meus olhos, vos juro
que nunca vi ninguém semelhante a vós! Quem sois?
Serenamente,
ela respondeu-lhe:
-
Sou a rainha desta terra! A rainha de Ufiusa, reino das serpentes!
O
rosto de Ulisses, animou-se num sorriso. O primeiro, desde que o inimigo
começara a atacá-lo. Mas esse sorriso não era feliz. Havia qualquer coisa de
enigmático que lhe dava um sabor estranho. Aproximou-se da mulher que lhe falava.
Olhou-a bem de frente, numa minúcia quase excitante, e declarou então:
-
Agora compreendo porque sois assim! Tendes, na verdade a graça felina das
serpentes … A vossa fala é doce … O vosso olhar é amargo!...
Foi
a vez da mulher sorrir. E a sua voz bonita tornou-se mais insinuante:
-
Achais o meu olhar amargo? Pois eu não o sou tanto como pensais, nobre
navegante! Durante dias e noites esperei a tua rendição. Mas foste corajoso!
Ainda bem! Apreendi a admirar-vos!
Ulisses
curvou-se num cumprimento:
-
Grato pelas vossas palavras, senhora … No meu país as mulheres não sabem falar
assim!
Ela
olhou-o intencionalmente:
-
Pois aqui … na minha terra … sente-se a falta dum rei!
O
jovem guerreiro sorriu:
-
Quereis explicar-vos melhor?
O
olhar dela estava preso ao dele como que num encanto.
-
Achais necessário, nobre navegante? Não tendes já percebido o meu desejo?
Sem
deixar de a fitar, Ulisses, jovem e valoroso guerreiro, falou-lhe já um pouco
perturbado:
- Preferia
que fosseis vós a expor o vosso plano!
Ela
sorriu-lhe abertamente:
-
Pois bem: Acho que podeis edificar aqui essa cidade que sonhaste, mas … com uma
condição: ficareis vivendo cá para sempre!
Ele,
com o seu espírito de independência tentou ainda opor-se:
-
E se eu não puder aceitar a vossa condição?
Ela
teve um gesto evasivo: - Aceitando ou não, nobre navegador – creio que ficareis
da mesma maneira!
Calaram-se.
Ele sem resposta. Ela crente do seu triunfo. Continuava, porém, a prendê-lo
nesse seu olhar estranho … como que de encantamento.
Vencido,
Ulisses quase murmurou:
-
Pois bem … Aceito!
E
a partir desse dia, ou, antes a partir dessa hora, tudo se modificou na terra
estranha e bela onde Ulisses aportara. Desembarcaram homens, ferramentas,
material. Num grande esforço, ergueram-se edifícios, abriram-se jardins,
fizeram-se ruas!
As
serpentes já não atacavam os operários. Agora reuniam-se e cantavam as mulheres
serpentes para que os homens trabalhassem. Cântico enfeitiçado que possuía em
si próprio qualquer coisa de mágico!
Algum
tempo passou. Porém, Ulisses o irrequieto Ulisses não queria ficar ali. A sua
terra chamava por ele. E embora aquela cidade recebesse o nome de Ulisseia,
consagrando-o como seu dono e senhor, a verdade é que o destino de Ulisses era
um destino de aventura.
Ele sentia saudades do mar e sede de novas lutas. Mas
partir não era fácil como ficar. Havia um grande, um enorme obstáculo quase
impossível de transpor: a rainha das serpentes. Ela adorava-o e queria-o preso
a si.
Aliás,
em todos os tempos houve sempre quem gostasse de transmitir o segredo que lhe
não pertence. E assim chegou aos ouvidos da Rainha que Ulisses pretendia
deixá-la. Desesperada, ela procurou-o sem demora:
-
Nunca te deixarei partir! Olha bem para mim … Nos meus olhos podes ler o amor
… ou a morte!
Ela
viu bem como eram verdadeiras as suas palavras e achou que devia mentir-lhe
para levar avante o seu projeto de uma abalada. E sorrindo-lhe o mais
docemente possível, replicou-lhe:
-
Mas quem te falou em abalar? Nunca semelhante ideia me passou pela cabeça. Não
vês como sou feliz contigo? Não é tão bela a cidade que edificamos?
O
diálogo continuou numa atmosfera de dúvida e falso carinho.
-
Ulisses! Não me mintas! Seria muito pior para ti! O meu ódio será tão grande
como o meu amor!
-
És louca! Não sou eu aqui o rei e senhor? Para que havia de querer partir?
-
Disseram-me que tens saudades da tua terra!
-
Mentiram-te!
-
E com que intenção?
- A
de desunir-nos! Nós dois, juntos, somos muralhas invencíveis!
-
Dizes bem! Unidos ninguém conseguirá vencer-nos! Mas … vejo-te, às vezes, tão
pensativo a olhar para o Oceano … Receio que desejes novas aventuras …
-
Que ideia! Eu prefiro ler o amor nos teus olhos. Não quero ódios.
-
No entanto, sinto que foges de mim.
-
Isso é ideia tua! Olha: à noite daremos um grande passeio, como nos primeiros
dias do nosso amor. Queres?
-
Sim, Ulisses! Mas não te esqueças: o meu amor é grande, mas o meu ódio pode
ainda ser maior!
Ele
sorriu-lhe … Alguém chegou e a conversa ficou suspensa. Lentamente, a rainha
das serpentes afastou-se …
Ulisses
preparou tudo para essa noite. Teria de partir, ou antes, teria de fugir e para
isso, precisava de um plano bem organizado. Habituado às lutas, fácil lhe foi
organizar a fuga. E como precisasse de um auxiliar chamou o mais fiel dos seus
companheiros, falando-lhe com ansiedade desusada:
-
Escuta: preciso do teu auxílio …
O
fiel companheiro respondeu-lhe com a solenidade dos grandes momentos:
-
Podes contar comigo para tudo! Dispõe da minha vida se quiseres.
-
Não quero tanto … preciso apenas que te disfarces tão bem que alguém te possa
confundir comigo próprio.
-
É fácil … temos a mesma estatura!
Ulisses
abanou a cabeça apreensiva:
-
Pois sim … mas não te esqueças que se trata de enganar uma mulher … e o coração
das mulheres é bem difícil de enganar!
O
companheiro de Ulisses baixou a voz:
-
Compreendo … queres fugir dela esta noite!
Ulisses
sorriu feliz.
-
Isso mesmo! Tenho já o plano formado. Irás buscá-la e passear com ela que está
à minha espera. Entretanto, eu fugirei.
Como
resposta, o companheiro de Ulisses disse apenas:
-
Que os deuses nos protejam!
De
princípio, tudo se passou como Ulisses previa. O seu fiel companheiro, muito
bem disfarçado, foi buscar a Rainha das Serpentes e levou-a para longe do rio,
passeando ao luar. Mas só ela falava. Ele receava que ela lhe reconhecesse a
voz. Embalada pela emoção do amor, a rainha serpente ia dizendo, embevecida:
-
Construiremos um império imenso. E a tua Ulisseia – a nossa Ulisseia – será a
cabeça do Mundo. A cabeça desse Império! Que dizes? Ah! Mas tu não falas?
Não me dizes nada? Porquê?
A
mulher serpente começou a inquietar-se.
- Olha
para mim! Quero ver os teus olhos! Tu escondes-me alguma coisa!
Ele
tentou afastar-se. Ela encarou-o de frente e reparando no engano em que caíra,
gritou furiosa:
-
Ah, vilão! Fui traída! Enganada! Mas tu morrerás e ele também. Este é o teu
castigo. Recebe o meu veneno!
O
companheiro de Ulisses deu um grito e caiu no chão. Ela curvou-se para ele:
-
Diz-me! Diz-me, miserável … onde está ele, o traidor?
Num
estertor o jovem companheiro de Ulisses que dera a vida pela liberdade do
amigo, murmurou:
-
Ele fugiu … fugiu pelo mar … já deve ir muito longe …
Ela
serrou os dentes numa praga:
-
Maldito! Mil vezes maldito! Hei-de alcança-lo custe o que custar!
E
conta a lenda que num esforço superior às suas próprias possibilidades – a
Rainha das Serpentes quis estender-se sobre a cidade alcançando o mar. Daí,
dessa inútil tentativa – porque Ulisses já ia longe – resultou apenas a sua
morte. E como simbolismo do esforço feito, ficaram as sete colinas de Lisboa,
desenhadas pelas contorções da pobre Rainha das Serpentes.
Espavoridas,
as serpentes fugiram. Mas ali, no antigo reino de veneno e morte, ficou
edificada a altaneira, nas suas sete colinas, a mais bela cidade de então!”.
Palácio de Queluz
Trabalho e pesquisa
de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
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