Santuário do Bom Jesus
As cerimônias da Semana Santa, em Braga, começam com a tradicional Bênção
dos Ramos e a Procissão do Senhor dos Passos. A cidade vive sete dias de
intensa atividade religiosa, com os tradicionais ritos e procissões, que
culminam no Domingo de Páscoa, a atrair muitos milhares de fiéis e de turistas.
Os visitantes são sobretudo atraídos pelas grandes procissões que registam a
participação de centenas de figurantes vestidos a rigor para simbolizar o
calvário de Cristo. Será o caso, por exemplo, da tradicional procissão de Nossa
Senhora da «burrinha», que incorpora cerca de setecentos figurantes. Na
quinta-feira à noite, decorre a procissão de «Ecce Homo» e, na Sexta-feira
Santa, a solene Procissão do Enterro do Senhor, talvez a mais aguardada pelos
turistas. Já no Domingo de Páscoa, o tradicional compasso percorre as aldeias,
vilas e cidades minhotas.
Com tradições que remontam aos primórdios do século, a Semana Santa em
Braga é o expoente máximo das solenidades pascais do país e do norte da
Península Ibérica. Durante uma semana, a cidade de Braga acolhe milhares de
peregrinos oriundos de todo o país e da vizinha Galiza, para participar numa
das manifestações que constitui um dos mais notáveis cartazes do turismo
religioso.
Os archotes, as velas e os milhares de pessoas que se dispõem ao longo
das ruas para ver passar as procissões, em especial as do Senhor Ecce-Homo e do
Enterro do Senhor, configuram um quadro ímpar das festividades e transmitem uma
tradição enraizada num ritual dominado pelo conjunto de procissões noturnas
envoltas numa forte intensidade dramática.
A procissão de Endoenças, também conhecida por procissão do Senhor da
Cana Verde ou mais popularmente conhecida como procissão do Senhor Ecce-Homo,
tem lugar na noite de Quinta-Feira Santa. Com origens na visita que outrora se
efetuava às sete igrejas, inspirada nas Sete Estações Romanas, que, como reza o
Compromisso Cerimonial da Santa Casa da Misericórdia de Braga, refletia «a
penitência aos fiéis cristãos que reconheceram seus pecados, e por eles
quiseram fazer alguma satisfação penal nos dias em que o mesmo Filho de Deus
quis pagar por nós derramando Seu precioso sangue».
Quem chamou a si a realização desta procissão foram, por isso, as Santas
Casas da Misericórdia, instituídas em Portugal pela rainha D. Leonor, em 1498.
Ainda hoje, é a estas instituições que cabe a tarefa de promover e organizar
esta solenidade e por isso considerada a Festa da Irmandade, à qual todos os
irmãos eram então obrigados a assistir. O papel desempenhado outrora pelos
irmãos foi hoje parcialmente substituído pelo figurado que integram o cortejo
religioso.
Na cidade de Braga, a procissão da noite de Quinta-Feira Santa tem como
figura central a imagem do Senhor Jesus Cristo coroado de espinhos, com as mãos
atadas, segurando um cetro, figurado numa cana verde.
Esta procissão, pelas suas características, é uma das solenidades da
Semana Santa mais participada pelos bracarenses e por muitos milhares de fiéis
de todo o país e da vizinha Galiza que nesta noite "invadem" a cidade
de Braga para assistir.
No dia seguinte, na Sexta-Feira Santa, é a vez de se realizar a procissão
do Enterro do Senhor. Este cortejo religioso é o mais solene de todos os que na
Semana Santa se organizam. Os mesários e irmãos da Misericórdia e Santa Cruz,
encapuzados, as varas a rasto, os Reverendo Cónegos com os mantos e varas
arrastados pelos lajedos, os figurados, também arrastando as cruzes, como os
pendões, bandeiras das congregações, juízes com varas, provocam como que um
gemido de consternação, tal é a impressão que o "surdo" arrastar das
varas nos provoca. De longe a longe, este sussurro é quebrado pelo som entoado
por uma personagem que segue o Esquife do Senhor: «Heu Heu Damine Heu Salvador
noster! (Ai! Ai! Senhor Salvador Nosso!).
O rugir das matracas dos farricocos, o bater das varas dos irmãos da
misericórdia que se ouvem na procissão da Quinta-Feira Santa, dão lugar a um
silêncio avassalador na procissão do Enterro do Senhor. O cortejo religioso sai
da Sé Catedral, a onde regressa depois de percorrer as principais artérias do
centro da cidade.
Trabalho e pesquisa de Carlos Leite Ribeiro - Marinha Grande - Portugal
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