Trabalho e
pesquisa de Carlos Leite Ribeiro
Nasceu em Santos, SP, (Brasil) a 13 de Junho de 1763 e Morreu em Niterói, RJ, (Brasil) a 6 de Abril de 1838
"Nunca fui nem serei realista puro, mas nem por isso me alistarei jamais debaixo das esfarrapadas bandeiras da suja e caótica Democracia." - citando José Bonifácio
Os homens ao redor da mesa são conspiradores. Estão reunidos para, segundo eles próprios, "defender por todos os meios a integridade, categoria e independência do Brasil, como Reino, e a Constituição legítima do Estado". Um velho, a quem os outros chamam de Tibiriçá, dirige os trabalhos, e acaba de propor a formação de uma sociedade secreta, o "Apostolado da Nobre Ordem dos Cavaleiros da Santa Cruz". O primeiro a aplaudir a ideia é um jovem, que ali tem o nome de Rômulo. Data do acontecimento: 2 de Junho de 1822; local: Rio de Janeiro.
Brasil e Portugal ainda formam um
Reino Unido, mas aqueles homens querem o Reino do Brasil senhor de seus
destinos. Por isso, tratam de organizar-se clandestinamente. Três lemas os
unem: "Independência ou Morte", "União e Tranquilidade",
"Firmeza e Lealdade".
Naquele fim do século XVIII, as minas de ouro do Brasil já pouco produziam, e o governo português buscava homens que entendessem de mineralogia, tanto para aumentar o rendimento das minas existentes, como para pesquisar novos filões. Não havia ainda uma especialização das ciências, e assim, embora José Bonifácio estivesse escrevendo sobre baleias, sua atividade chamou a atenção da Coroa.
Naquele fim do século XVIII, as minas de ouro do Brasil já pouco produziam, e o governo português buscava homens que entendessem de mineralogia, tanto para aumentar o rendimento das minas existentes, como para pesquisar novos filões. Não havia ainda uma especialização das ciências, e assim, embora José Bonifácio estivesse escrevendo sobre baleias, sua atividade chamou a atenção da Coroa.
A 18 de Fevereiro de 1790, por
indicação do Duque de Lafões, José Bonifácio, Manuel Ferreira da Câmara
Bethencourt e Sá (também brasileiro) e Joaquim Pedro Fragoso são escolhidos
para percorrer a Europa, com o objetivo de "adquirirem por meio de viagens
literárias e explorações filosóficas os conhecimentos mais perfeitos de
mineralogia e mais partes da filosofia e história natural.
Era uma espécie de bolsa de
estudos. Os três homens deveriam seguir para a França, onde cursariam química e
mineralogia durante pelo menos um ano, e depois para as regiões da Alemanha (na
época ainda não unificada), Suécia, Dinamarca, Inglaterra e Escócia. Em Junho
de 1790, os três puseram-se a caminho.
José Bonifácio de Andrada e
Silva, cognominado o Patriarca da Independência, estadista brasileiro, nasceu
em Santos, São Paulo, em 13 de Junho de 1763. Foi professor de geologia e
metalurgia da Universidade de Coimbra, onde havia se graduado em Filosofia
Natural e Direito Civil, e membro da Academia de Ciências de Lisboa.
Por ocasião da Invasão Francesa, em 1807, alistou-se no Corpo Voluntário Académico, tendo servido como oficial e depois como comandante. Expulsos os invasores, tornou-se Chefe de Polícia do Porto.
Por ocasião da Invasão Francesa, em 1807, alistou-se no Corpo Voluntário Académico, tendo servido como oficial e depois como comandante. Expulsos os invasores, tornou-se Chefe de Polícia do Porto.
Após retornar ao Brasil,
dedicou-se ao estudo de minerais. Tornou-se figura de projeção política a
partir de 1821, como vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo.
Foi o primeiro brasileiro a
ocupar um ministério, o do Reino, em Janeiro de 1822. Sua grande capacidade,
seus dotes de inteligência e de carácter, tornaram-no, junto a Dom Pedro, o
principal obreiro da Independência.
No Primeiro Reinado, ocupava a
Pasta do Império quando, em 1823, com seu irmão Martim Francisco, afastou-se
dos Conselhos da Coroa, iniciando a oposição a D. Pedro I.
Foi eleito para a Assembleia
Constituinte de 1823. Nesse ano, teve sua prisão e deportação para a Europa
ordenadas por D. Pedro I.
Tendo voltado ao Brasil em 1829,
foi residir na Ilha de Paquetá RJ, de cujo retiro saiu apenas para assumir a
cadeira de Deputado pela Bahia, como suplente, nas sessões legislativas de 1831
e 1832. Reaproximou-se do Imperador que, ao abdicar à Coroa, em 1831, o indicou
para tutor de seu filho - o futuro Dom Pedro II.
Foi destituído da tutoria, pela
Regência, em Setembro de 1833. Ficou em prisão domiciliar até 1835, quando
terminou o processo-crime instaurado contra ele por conspiração e perturbação
da ordem pública. Mudou-se nos últimos dias de vida para Niterói, Rio
de Janeiro, onde veio a falecer em 1838.
Em 1790 foi indicado por D. Maria
I para realizar uma viagem científica pela Europa, com o objetivo de estudar e
recolher informação nas áreas da química, mineralogia, geologia, exploração
mineira e metalurgia. Depois de muitos contatos e de uma intensa atividade
científica, regressou a Portugal em 1801 indo ocupar o lugar de Professor de
Metalurgia da Universidade de Coimbra. Neste período tomou a seu cargo diversas
funções e atividades chegando a ocupar onze cargos, sendo apenas três deles
remunerados. Entre estes cargos podem destacar-se os seguintes, entre 1801 e
1807: membro do Tribunal de Minas; Intendente-Geral das Minas e Metais do
Reino; administrador das minas de carvão de Buarcos e das minas e fundição de
ferro de Figueiró dos Vinhos; inspetor das matas e sementeiras florestais;
diretor do curso de Docimasia da Casa da Moeda; direção da sementeira de
pinhais na orla marítima; desembargador ordinário e efetivo da Relação e Casa
do Porto; superintendente do rio Mondego e Obras Públicas de Coimbra; diretor
hidráulico das obras de encanamento do rio Mondego. Ainda neste período
publicou diversas monografias e fez várias comunicações científicas à Academia
das Ciências de Lisboa.
Em 1807, com as invasões
francesas, Bonifácio de Andrada alistou-se no Corpo Voluntário Académico, um
batalhão de estudantes e professores de Coimbra, onde chegou ao posto de
comandante, destacando-se pelas suas capacidades de liderança. Em 1809 retornou
às funções que tinha antes da guerra. Em 1812 tornou-se Vice-Secretário da
Academia das Ciências, onde apresentou diversas memórias, tendo sido defensor
da introdução do sistema métrico decimal em Portugal, quando este assunto foi
analisado pela Academia. Regressou ao Brasil em 1819, onde foi convidado por D.
João VI para reitor do Instituto Académico, cargo que não aceitou, preferindo
realizar diversas viagens científicas pelo Brasil.
Por volta de 1821 deixou de
desenvolver atividade científica para se dedicar à vida política, num período
em que em Portugal se instaurou o regime político liberal e no Brasil se
caminhava para a independência que foi conseguida em 1822. Com a partida de D.
João VI para Lisboa, em 1821, ficou no Brasil o seu filho D. Pedro, futuro D.
Pedro I do Brasil e IV de Portugal. Bonifácio de Andrada foi eleito
vice-presidente da Junta Governativa de São Paulo em 1822.
Colaborou de forma muito próxima
com D. Pedro no processo político que conduziu à sua recusa em voltar para
Portugal e à declaração da independência do Brasil, em 7 de Setembro de 1822.
Bonifácio de Andrada foi Ministro do Império logo após a independência, mas em
Julho de 1823 deixou o cargo, em divergência com D. Pedro I. Decidiu ocupar o
seu lugar na recém formada Assembleia Constituinte, onde exerceu o papel de
oposição ao governo de D. Pedro, por divergências políticas profundas.
Em Novembro de 1823, a Assembleia
foi dissolvida e muitos membros da oposição foram presos e deportados, entre os
quais Bonifácio de Andrada. Esteve exilado em França cinco anos e oito meses,
regressando ao Brasil em 1829. Em 1831, após um pequeno período de inatividade
político-partidária, o Imperador D. Pedro I abdicou do trono do Brasil, de
forma a poder deslocar-se para Portugal e aí lutar pela defesa do regime
político liberal contra o seu irmão D. Miguel. D, Pedro nomeou Bonifácio tutor
do seu sucessor, o seu filho D. Pedro II, então com cinco anos. Em 1833,
Bonifácio foi afastado da tutela de D. Pedro II pelo Senado, sendo preso como
subversivo e colocado em prisão domiciliária. Em 1835, viria a ser absolvido
das acusações que sobre ele pendiam. Faleceu na sua residência Niterói, Rio de
Janeiro, a 6 de Abril de 1838.
Devido ao seu papel muito ativo
no processo de independência do Brasil e de apoio a D. Pedro I, é considerado o
‘Patriarca da Independência’.
Atividade
Científica:
Encarregado de fazer uma viagem
científica à Europa, partiu em 1790 para Paris com os naturalistas Manuel
Ferreira da Câmara Bittencourt e Sá (1762-1835) e Joaquim Pedro Fragoso de
Sequeira (?-1833). Esteve um ano em Paris, onde estudou mineralogia com
René-Just Haüy (1743-1822), botânica com Antoine-Laurent de Jussieu
(1748-1836), química com Jean Antoine Chaptal (1756-1832) e A. Fourcroy
(1755-1809), e minas com J. P. Guillot-Duhamel. Elaborou e apresentou à Société
d’Histoire Naturelle de Paris o trabalho “Mémoire sur les diamants du Brésil”,
que lhe valeu a sua admissão na Sociedade e que foi publicada nos Annales de
Chimie em 1792.
Foi também eleito sócio da
Société Philomatique de Paris. Seguiu depois para a Alemanha, onde recebeu
lições de geognosia e minas de A. G. Werner (1750-1817), em Freyberg. Estudou
matemática com Johann Friedrich Lempe (1757-1801), direito e legislação de
minas com Köhler, química mineral com Klotzsch, química aplicada com Freisleben
e metalurgia com Lampadius (1772-1842). Conheceu também A. von Humboldt
(1769-1859). Visitou minas na Áustria, Estíria, Caríntia e Tirol. Viajou ainda
por Itália, onde conheceu Alessandro Volta (1745-1827) e onde realizou estudos
geológicos que deram origem a uma memória escrita em 1794 mas apenas publicada
em 1812, "Viagem Geognóstica aos Montes Eugâneos".
Seguiu depois para a Suécia e
Noruega, tendo frequentou cursos de mineralogia em Upsala e em Copenhaga.
Visitou diversas minas e jazidas escandinavas onde realizou algumas pesquisas
que deram origem à identificação de 12 novos minerais, quatro novas espécies e
oito variedades de espécies conhecidas, que deu a conhecer no jornal alemão
Allgemeines Journal der Chemie (1800) sob o título "Kurze Angabe der
Eigenschaften und Kennzeichen einiger neuen fossilien aus Schweden und
Norwegen, nebst einigen chemischen Bemerkungen über dieselben". Este
trabalho foi depois traduzido em inglês no Journal of Natural Phylosophy,
Chemistry and the Arts (1801) e em francês no Journal de Physique, de Chimie,
d’Histoire Naturelle et des Arts (1800).
Este estudo teve grande
repercussão na Europa e revelou um trabalho rigoroso de determinação dos pesos
específicos dos minerais, com repercussões na identificação de elementos
químicos que vieram posteriormente a ser identificados por Martin Klaproth
(1743-1817), Johann August Arfwedson (1742-1841), Humphry Davy (1778-1829) e W.
T. Brande (1788-1866). Bonifácio esteve ainda na Bélgica, Holanda, Hungria, Boémia,
Turquia e Inglaterra.
Foi membro de diversas
instituições e sociedades científicas, tais como a Academia Real das Ciências
de Lisboa, onde foi vice-secretário, a Sociedade Mineralógica de Iena, a
Sociedade Lineana de Iena, Academia de Berlim, a Academia de Estocolmo, a
Academia de Turim, a Sociedade Geológica de Londres, a Sociedade Werneriana de
Estocolmo, a Sociedade de História Natural de Paris, a Sociedade Filomática de
Paris, Sociedade de Física e de História Natural de Genebra, a Sociedade de
Filosofia de Filadélfia e a Academia Imperial de Medicina do Rio de Janeiro.
Antes de seguir para o Brasil, em 1819, apresentou na Academia de Ciências de
Lisboa um discurso de despedida onde expunha as suas ideias em mineralogia e
climatologia.
A sua atividade na Universidade
de Coimbra foi limitada pelas condições de trabalho existentes e que não lhe
permitiam desenvolver de forma dinâmica o seu ensino. Faltavam materiais
científicos e tinha que recorrer à sua coleção mineralógica particular. Por
diversas vezes lamentou a situação dos estudos na Universidade, que pretendia
mais atualizados e experimentais.
Regressado ao Brasil, ainda
realizou alguns estudos mineralógicos e fez viagens científicas, de que
resultaram planos de exploração de recursos mineiros e de desenvolvimento de
diversas indústrias.
A partir de 1821 abandonou as
suas atividades de investigação e trabalho científico para se dedicar a tempo
inteiro à atividade política que desenvolveu com intervenções decisivas para a
independência e organização institucional do Brasil.
Trabalho e pesquisa baseados em:
História de Portugal de Oliveira Martins e de Alexandre Herculano; texto de Hermano
Saraiva e outros artigos.
Trabalho e pesquisa de Carlos
Leite Ribeiro – Marinha Grande – Portugal
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